O Atendimento Terapêutico dos Palhaços em hospitais do Brasil

Não importando o ambiente em que uma criança se encontre, sabe-se que o brincar e a realização de outras atividades inerentes a esse momento da vida de uma pessoa são essenciais para o seu desenvolvimento feliz e saudável.

Apesar dos avanços tecnológicos dentro dos hospitais e do desenvolvimento das próprias técnicas hospitalares, percebe-se muitas vezes uma lacuna de conhecimento existente nesses lugares sobre estar recebendo um tratamento médico e a necessidade/possibilidade de se continuar sendo feliz.

No que tange a crianças hospitalizadas, o brinquedo e o ato de brincar têm um importante valor terapêutico, influenciando diretamente no restabelecimento físico e emocional dessas pessoas, pois pode tornar o processo de hospitalização menos traumatizante,  mais alegre, fornecendo melhores condições para a recuperação.

A atividade dos palhaços em hospitais representa isso, o resgate ou mantimento da alegria e da felicidade, do contato humanizado, também dos adultos, mas principalmente das crianças.

Conheça a abordagem terapêutica do Clown Care e o belo trabalho das diversas equipes de palhaços em hospitais espalhadas no Brasil e no mundo!

O palhaço, o teatro e o lúdico dentro dos ambientes hospitalares

Uma das possibilidades do brincar se encontra na dramatização. Através desta técnica, a criança pode conhecer detalhes da vida no hospital de tal forma que vivencie a função real e não fantasiada do instrumental hospitalar e das técnicas empregadas durante a assistência que ali se presta (Françani; Zilioli; Silva; Sant´anna e Lima, 1998).

A atividade “clown” (palhaço em inglês) é a exemplificação disso. Faz do hospital, por meio da humanização hospitalar, um ambiente mais confortável e receptivo aos tratamentos ali aplicados.

Por meio do lúdico, do riso e da brincadeira, extrai os conhecimentos das crianças sobre o que se passa no ambiente hospitalar, as ensina (e também aos parentes) e as colocam na posição de atores (dramaturgos ou sociais) daquele lugar.

A conscientização lúdica ajuda no desenvolvimento da criança, na ampliação de seu entendimento e em sua recuperação. A presença especializada dos palhaços em hospitais tornou-se um elemento essencial dessa ajuda.

Os palhaços em hospitais como ferramenta terapêutica e instrumento de apoio aos tratamentos em saúde e saúde mental

De acordo com o que consta na história do movimento clown, o Clown Care teve início na década de 60 com a participação fundamental do médico americano Hunter Adams, ou “Patch Adams”, que propôs e executou modificações nas relações dentro dos hospitais através da máxima “serventia do amor para todas as pessoas” (Hospitalhaços, 2016).

Patch teria sido o primeiro a entrar em um ambiente hospitalar vestido de palhaço com o fim de levar alegria e felicidade para as pessoas passando por dificuldades físicas e psicológicas em decorrência de suas enfermidades.

Patch Adams

O palhaço pioneiro, antes de começar sua trajetória, no entanto, teve uma vida difícil. Fora dos padrões sociais, sofreu bullying durante a infância e a adolescência, perdeu sua namorada ainda jovem, lidou com a depressão, atentou contra sua própria vida três vezes e se internou em um hospital psiquiátrico perto da onde morava.

Ali, teve a reflexão que mudaria seus dias, decidindo viver sua vida feliz e fazendo de seu ofício levar essa felicidade e alegria para os outros. Tornou-se médico e palhaço, sempre com o objetivo de cuidar das pessoas e de fazer dos hospitais lugares humanizados.

De acordo com Patch, “a felicidade é a plataforma em que uma pessoa se lança para a vida”. Patch fundou o Gesundheit Institute (1971), localizado na Virginia – Estados Unidos e nos 12 primeiros anos de trabalho atendeu mais de 15 mil pacientes.

A humanização hospitalar e os palhaços em hospitais no Brasil

Outra vertente dessa linda história começa com a figura de Michael Christensen, um palhaço americano, diretor do Big Apple Circus de Nova Iorque, que assim como Patch, deu asas a sua vontade de ajudar aos outros criando a primeira instituição de palhaços profissionais e doutores do Clown Care dos EUA.

Sua história com o Clown Care começa no ano de 1986, quando convidado para uma apresentação no Hospital Presbiteriano de Columbia, decidiria satirizar a rotina hospitalar e, logo após seu show, de dirigir ao local em que as crianças internadas se encontravam para levar sua alegria até lá.

Michael Christensen

O resultado surpreendeu a todos: as crianças que encontravam-se deprimidas e apáticas esforçavam-se ao máximo para participar dos jogos propostos. Após outras visitas, o hospital decidiria investir na continuidade do trabalho, nascendo então a Clown Care Unit (Françani; Zilioli; Silva; Sant´anna e Lima, 1998).

A história se une ao Brasil quando Wellington Nogueira, ator brasileiro morando em Nova Iorque, passa a fazer parte do Clown Care Unit, programa vinculado também ao Big Apple Circus de Michael Christensen.

Gosta de aprender sobre Psicologia e Saúde Mental? Assista nossos conteúdos no Youtube, conheça e se inscreva no canal!

Alguns anos depois, em 1991, Wellington traria essa ideia para cá e em setembro do mesmo ano, no Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, teria início do primeiro programa brasileiro de Clown Care, batizado com o nome de “Doutores da Alegria”.

Hoje em dia são várias as instituições de Clown Care pelo mundo, com palhaços atendendo em hospitais de muitos países, desmistificando os tratamentos por meio do humor e da alegria que espalham. E nenhuma delas possui fins lucrativos.

Algumas dessas instituições contam inclusive cursos profissionais para a formação de atores e palhaços. Muitos deles ajudam pessoas em situação de vulnerabilidade social a entrarem para o meio artístico e do Clown Care.

Mudando a atmosfera dos hospitais para todos, mas em especial para as crianças, o contato humanizado se faz presente e é o elemento principal do trabalho dos palhaços.

Fazer das crianças as doutoras das “operações de troca de nariz vermelho” ou das “injeções da alegria” cria uma outra perspectiva sobre aquela experiência no âmbito psicológico das pessoas presentes. O riso, a mágica, o teatro, a música; tudo é importante.

O objetivo das instituições de palhaços baseadas na abordagem Clown Care

No Brasil, a maior parte das organizações fala em minimizar as conseqüências da enfermidade e das condições que a cercam num hospital através da atuação dos palhaços. E, claro, não se deixa de mencionar que o objetivo é levar alegria, porque a alegria é o meio, é a ferramenta, o instrumento de qualquer melhora.

Outro fato marcante para os grupos brasileiros é a humanização hospitalar, algo que tomou maior forma em decorrência da propagação que este movimento ganhou a partir da promulgação do Programa Nacional de Humanização Hospitalar pelo Ministério da Saúde (Humaniza SUS) e a partir também de uma popularização do tema “palhaços em hospitais”.

Somente em alguns casos seria mais relevante, por exemplo, o entretenimento no hospital e o trabalho das artes cênicas isoladamente para o grupo/instituição. Mas para boa parte das organizações é citada a preocupação pela alteração da qualidade de vida das pessoas internadas nos hospitais.

Ainda há outras organizações pelo mundo que, à maneira dos grupos brasileiros, selecionam entre seus objetivos a promoção da saúde, os benefícios do humor, o alívio dos efeitos da doença e das situações que ela envolve em um hospital (estresse, rotina, ansiedade, etc.), buscando melhorar a saúde mental e a situação psicológica das pessoas.

Levar alegria e felicidade para os enfermos, alterando a realidade hospitalar melancólica, acaba sendo o objetivo geral da grande maioria das organizações de palhaços.

(Fonte: Doutores da Alegria)

Reflexões a cerca do ambiente hospitalar e dos atendimentos terapêuticos dos palhaços em hospitais

O avanço da medicina por si só não permite o bem estar integral da saúde da criança e isso pode levar em alguns casos a internações e convivência com o ambiente hospitalar.

Nesse sentido, se a criança se sente descontraída e feliz, sua permanência no hospital se torna mais amena e seu desenvolvimento pode ser aprimorado. Os palhaços em hospitais e o Clown Care oferecem meios fundamentais para isso.

Quer ler mais sobre outros temas interessantes da Saúde Mental? A gente deixa o link pra você!

Envolvendo as crianças, seus parentes e mesmo os profissionais responsáveis pelo cuidado médico, o teatro e o riso proporcionado pelos palhaços tem o poder de alterar o ambiente e a lógica contraída dos hospitais.

Um estudo italiano realizado com 40 crianças na faixa dos 5 aos 12 anos de idade, hospitalizadas para pequenas cirurgias, demonstrou que a presença dos palhaços e dos pais, durante a indução anestésica, teria sido uma intervenção efetiva para a redução de ansiedade tanto das crianças quanto dos adultos (Vagnoli, Carprili, Robiglio e Messeri, 2005).

O palhaço, elemento humanizante das relações, tem suas origens fincadas na ingenuidade e na pureza. Ele coloca à disposição do paciente o prazer de rir, amplia sua perspectiva de vida e lhe mostra outras possibilidades do processo de cura (Lima, Rocha, Azevedo e Nascimento, 2008).

Nesse sentido, o Clown Care deixa em evidência que o hospital não é um ambiente apenas de dor e sofrimento, que nele há um espaço a ser desfrutado para o desenvolvimento de atividades teatrais, pedagógicas e recreacionais.

Dessa forma, entende-se que as situações de natureza hospitalar não deveriam interromper o desenvolvimento infantil. Essa é a ideia dos palhaços em hospitais e tem sido assim que ao longo dos anos os palhaços tem auxiliado na recuperação da saúde física e mental das pessoas.


Quer ler mais sobre outros temas interessantes da Saúde Mental? A gente deixa o link pra você!

2 Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *