Saúde mental, álcool e drogas – Quando nossa saúde psicológica está em risco?

O tema saúde mental, álcool e drogas se faz presente há um bom tempo em debates sobre saúde pública ao redor do mundo. Atualmente, tanto bebidas alcoólicas quanto diferentes tipos de drogas fazem parte da realidade de milhares de pessoas.

Cuidar desse consumo quando ele se torna um problema tem permeado a construção de políticas públicas em variados países. Conscientizar a respeito da relação saúde mental, álcool e drogas também tem feito parte desse itinerário.

Essa conscientização deve partir de diferentes vias, dado que o excesso tem colocado em risco a vida e saúde psicológica de pessoas. Nossa tarefa se concretiza quando conseguimos transmitir uma mensagem positiva, sem estigmas, àquele que sofre.

Sendo saúde mental, álcool e drogas o tema do artigo de hoje, esperamos que ele possa alcançar pessoas – usuários, familiares e profissionais – e tenha o poder de ajudar e, de repente, de transformar uma vida.

Saúde mental, álcool e drogas – Uma relação histórica

O consumo de álcool e drogas, desde civilizações antigas, sempre esteve presente. Baseado em normas, costumes e contextos socioculturais diferentes, as sociedades sempre fizeram bom uso dessas substâncias em suas diversidades.

A expansão desse consumo se inicia conforme a chegada do século XIX, quando o isolamento dos princípios ativos dessas substâncias e sua consequente industrialização levam ao público compostos mais potentes e em maiores quantidades.

Nesse período, tem-se a crescente popularização do consumo de álcool e drogas ao redor do mundo, baseada principalmente no uso recreativo, que passou a abarcar tanto jovens quanto adultos da época.

A expansão, no entanto, seria acompanhada pelo enfraquecimento das estratégias socioculturais de regulamentação do consumo de álcool e drogas, algo que teria como consequência a emergência de um conjunto de questões sociais e de saúde a ele associados (Alves, 2009).

Na ausência de normas que regulamentassem este consumo – já no século XX – tem-se que os Estados intervém mediante a formulações e implementações de novas políticas públicas. Surge, mediante ao contexto, a acepção do modelo biomédico de tratamento.

Igualmente à saúde mental, tem-se que a concepção biomédica, ao olhar para a relação saúde e doença de forma reducionista e puramente biológica, deixou de considerar elementos fundamentais do ser humano no trato a suas dificuldades.

Nesse momento, em que toda produção de conhecimentos e a pratica médica se orientavam pelo modelo biomédico, tem-se um contexto em que a subjetividade humana é deixada de lado pela racionalização do trato à saúde, incluída a saúde mental.

Faz-se então uma nova ponte com o tema saúde mental, álcool e drogas como exemplo desse período, em que a desumanização e a desvalorização de valores humanos se manifestam e seus efeitos – pouco entendidos – são sempre relacionados a patologias e doenças.

Mediante a uma sociedade extremamente rígida, permeada por guerras e tragédias, o uso do álcool e outras drogas, que antes poderia ser classificado como elemento de coesão social, torna-se elemento de evasão, fuga e desintegração – para então ser facilmente classificável como patológico.

As transformações do século XX, levando a um modo de vida extremamente racional, materialista e duro, fizeram com que o uso positivo dessas substâncias se tornasse um refúgio às depressões históricas do século e o consequente consumo excessivo, crescesse.

Em relação ao apoio e aos tratamentos realizados em favor das pessoas em necessidade em decorrência do consumo, até pelo menos a primeira metade do século XX, tem-se também no modelo biomédico um grande guia – ligado diretamente à assistência psiquiátrica.

Nesse sentido, os indivíduos que apresentavam problemas com álcool e drogas eram encaminhados para instituições psiquiátricas com a finalidade primordial de retirá-los do convívio social e promover o abandono do uso, utilizando, para tanto, as mesmas técnicas empregadas com outros internos (Pratta e Santos, 2009).

Em decorrência disso, do descaso, de lutas populares e transformações sociais, percebeu-se que falar sobre saúde, saúde mental, álcool e drogas não era apenas contrapô-las à questão da doença, mas sim falar sobre algo muito mais amplo e complexo, que não dependeria única e exclusivamente de uma questão biológica.

Você gosta de conteúdos em vídeo também? Nós temos um canal no Youtube! Vamos deixar o link aqui pra você conhecer!

Diante da necessidade, o processo saúde/doença começa a ser relacionado à própria complexidade e singularidade do viver do ser humano, sendo determinado, portanto, não por intervenção médica, mas sim por comportamentos, alimentação e pela natureza do meio ambiente (Capra, 1982 apud Pratta e Santos, 2009).

Nesse seguimento – voltando ao período em que vivemos – a saúde passa a ser considerada como um elemento em constante transformação, e a pessoa/paciente, a não mais ser encarada apenas como um objeto para a intervenção médica, mas sim como um sujeito integral com necessidades e valores ­– uma mudança que ainda se segue.

As políticas públicas de álcool e drogas no Brasil

Enquanto signatário de convenções internacionais de repressão ao tráfico e ao uso de drogas ilícitas, a formulação das primeiras políticas de álcool e drogas do Brasil alinharam-se unicamente ao discurso proibicionista da época, em que criminalizar e repreender seriam as únicas soluções.

As primeiras intervenções federais nesse sentido, datando do início ao quase fim do século XX, baseavam-se em medidas prisionais e leis de fiscalização, dando pouca ou nenhuma ênfase a elementos de tratamento, a não ser para os considerados “infratores viciados” (Lei n°. 5.726/1971).

Para essas pessoas, previa-se na época, através de determinação judicial, a internação em estabelecimentos hospitalares psiquiátricos. Com poucos detalhamentos, porém, sabia-se que a ideia por trás de tal medida, na verdade, objetivava mais retirar essas pessoas do convívio social do que propriamente ajuda-las.

Novas mudanças passam a ocorrer, de fato, com a promulgação Lei n°. 6.368 de 1976, que ampliava determinações a tratamentos em serviços de saúde e também o alcance do apoio aos usuários e dependentes; momento em que a assistência à saúde deixa de ser considerada apenas para “viciados infratores” (Alves, 2009).

A Lei abriria portas também para a construção dos primeiros serviços extra-hospitalares especializados em oferecer assistência aos dependentes de álcool e drogas no início da década de 1980. Um afastamento em relação aos hospitais psiquiátricos como único serviço disponível começa a acontecer também nesse momento.

Na mesma década, alguns órgãos seriam instituídos com o intuito de olhar para a problemática do uso excessivo de álcool e drogas – especialmente às drogas –, como o CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes).

O conselho, que apesar de reafirmar estratégias de repressão absoluta à produção, tráfico e consumo em qualquer escala como foco da solução de problemas, incentivaria o desenvolvimento de algumas práticas de atenção importantes à saúde dos usuários.

Dentre as iniciativas, ressalta-se neste momento o apoio aos centros de referência em tratamento, pesquisa e prevenção na área de álcool e outras drogas e aos programas de redução de danos voltados para a prevenção da transmissão do HIV/AIDS, mediante a troca de seringas para usuários de drogas injetáveis.

Os centros voltavam-se ao desenvolvimento de ações de prevenção e assistência especializada ao uso abusivo de álcool e outras drogas, formação de profissionais qualificados para o atendimento de dependentes e realização de estudos e pesquisas sobre o consumo, as ações de prevenção, o tratamento clínico e a redução de danos (Alves, 2009).

Este período marca o início de novas mudanças no Brasil em relação ao tema saúde mental, álcool e drogas, apesar do continuo viés proibicionista. Em 1998, alguns órgãos são transformados e, em 2000, mudanças importantes são realizadas na legislação sobre álcool e drogas.

Com a participação do Ministério da Saúde na construção da Política Nacional Antidrogas, a atenção à saúde torna-se mais presente e autônoma. Dentre as mudanças na legislação, tem-se a distinção importante entre atividades antidrogas e as que seriam de prevenção, tratamento, recuperação e reinserção social (Alves, 2009).

Nesse momento, profissionais, movimentos sociais e populares surgem como figuras importantes para a construção de um modelo de atenção à saúde de usuários de álcool e drogas orientado pela lógica da redução de danos e compromissado com a garantia de seus direitos de cidadania.

Propõe-se reconhecer as diferenças entre usuário, a pessoa em uso indevido ou dependente e o traficante de drogas, considerando-se que esta distinção implicaria também em abordagens igualmente diferenciadas (Alves, 2009).

Sob a participação do Ministério da Saúde, através de sua Política para Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas (2003), afirma-se a responsabilidade do SUS em garantir atenção especializada aos usuários de álcool e outras drogas, até então contemplada predominantemente por instituições não governamentais.

Você gosta de conteúdos em vídeo também? Nós temos um canal no Youtube! Vamos deixar o link aqui pra você conhecer!

Em 2005, transforma-se a Política Nacional Antidrogas em Política Nacional sobre Drogas, que então passa a fortalecer o enfoque em medidas para a redução da oferta (repressão ao tráfico), da demanda (prevenção, tratamento, recuperação e reinserção) e de danos (cuidado à pessoa e sua saúde).

Em suma, admite-se que o tratamento,  a recuperação e a reinserção social devem resultar da configuração de uma rede assistencial integrada e articulada, constituída por instituições governamentais e não governamentais do setor da saúde e da assistência social (Alves, 2009).

Nesse sentido, a concepção a respeito da problemática envolvendo o uso excessivo de álcool e drogas, incluindo em meio a sociedade e a discursos políticos, passa a se mostrar cada vez mais ampliada e cuidadora.

Com a legislação de 2006, as drogas deixam de ser referidas como uma ameaça, para serem reconhecidas como um problema social complexo a ser enfrentado com políticas públicas intersetoriais e políticas setoriais específicas.

Você gosta de conteúdos em vídeo também? Nós temos um canal no Youtube! Vamos deixar o link aqui pra você conhecer!

As atividades de atenção aos usuários e dependentes de drogas e suas famílias são definidas como aquelas que objetivam a melhoria da qualidade de vida e a redução dos riscos e danos associados ao uso de álcool e drogas

Assim, sob a lógica da redução de danos e dos avanços conquistados, espera-se que as atividades de prevenção do uso indevido de substâncias sejam orientadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e risco e também para a promoção e o fortalecimento dos fatores de proteção da pessoa e da família – algo que perdura até os dias de hoje.

Saúde mental, álcool e drogas e o modelo psicossocial de saúde

Como dissemos mais acima, com o início da industrialização, substâncias como o álcool e drogas passaram a ser ainda mais consumidas, movimento que perdurou durante o século XX, configurando-se por diferentes motivos como uma problemática de saúde pública.

Ao pensarmos que em geral somente depois da década de 1970 a questão da dependência começaria a ser enxergada não mais como sinônimo de desvio de caráter ou como algo estritamente vinculado a ideia de patologia, fica evidente que é ainda recente pensar sobre saúde mental, álcool e drogas como tema relevante.

Nesse sentido, o modelo psicossocial de saúde e saúde mental surge como divisor de águas, a medida em que constataria que tratar da questão da dependência não implicaria somente em questões orgânicas e psicológicas, mas também aspectos sociais, políticos, econômicos, legais e culturais inerentes a ela.

Encabeçado pelos diversos processos de Reforma Psiquiátrica ao redor do mundo, o modelo psicossocial daria ênfase a necessidade enorme de que se olhasse e pensasse a respeito de tratamentos e da rede de saúde que se reorganizava, principalmente durante a década de 1980.

Você gostaria de ler mais sobre outros temas interessantes da Saúde Mental? É só clicar aqui. A gente deixa o link prontinho pra você!

Assim, se afirmaria que não bastava somente identificar e tratar sintomas, mas sim, identificar consequências e os motivos, pensando o indivíduo em sua totalidade, para que se pudesse oferecer outros referenciais e subsídios que gerassem mudanças de comportamento em relação ao tema saúde mental, álcool e drogas (Pratta e Santos, 2009).

Dentro do modelo, como exemplo, sabe-se que o uso das substâncias passa a exercer um papel central na vida da pessoa, a medida em que esse ato seria realizado como forma de preencher lacunas importantes, recorrentemente relacionadas a problemáticas da vida.

Nesse contexto, romper o ciclo de dependência se torna algo muito difícil e delicado, pois os indivíduos que se tornam dependentes vivenciam um sofrimento físico e mental intensos, tendo sua vida afetada, bem como suas famílias, amigos e a comunidade de uma forma geral (Pratta e Santos, 2009).

Você gostaria de ler mais sobre outros temas interessantes da Saúde Mental? É só clicar aqui. A gente deixa o link prontinho pra você!

Em suma, sob análise dessas constatações, entendesse que cuidar das pessoas em estado de dependência irá sempre além da repressão, encarando tal problema de forma respeitosa e considerando esses indivíduos em sua totalidade, subjetividade e como construtores da própria recuperação.

Abordagens da saúde mental: como se aplicam ao tema saúde mental, álcool e drogas

A complexidade dos problemas relacionados ao consumo de álcool e drogas demandam diferentes opções de tratamento. As principais abordagens reúnem elementos de caráter cognitivo-comportamental, autoajuda e tratamento medicamentoso – quando necessário.

A teoria cognitivo-comportamental pressupõe que o reforço negativo diminui a frequência de um comportamento indesejado e propõe psicoterapia breve para modificar ideias distorcidas e comportamentos disfuncionais através da sensibilização do indivíduo a pensar sobre si e sua atuação no mundo (Sousa et al., 2012).

A Prevenção da Recaída (PR) mescla o treinamento de habilidades comportamentais, intervenções cognitivas e mudanças do estilo de vida. Entende-se que o indivíduo pode voltar a usar drogas em situações de alto risco e, uma vez identificado tal risco, é possível desenvolver estratégias eficazes de enfrentamento (Sousa et al., 2012).

Já a Entrevista Motivacional, também baseada em princípios cognitivos, visa auxiliar o sujeito nos processos de mudanças comportamentais através da modificação dos padrões de pensamento, entendimento das reações emocionais e implementação de soluções (Sousa et al., 2012).

Além disso, intervenção sistemática com as famílias e a mobilização de diferentes recursos da sociedade no intuito de identificar situações de risco e construir estratégias de enfrentamento são práticas importantes e devem estar atreladas às demais abordagens. (Sousa et al., 2012).

Você gostaria de ler mais sobre outros temas interessantes da Saúde Mental? É só clicar aqui. A gente deixa o link prontinho pra você!

Com a implementação do modelo de redução de danos no trato a pessoa dependente ou vivendo dificuldades sob o uso de substâncias, tem-se que o objetivo dos tratamentos passa a ser minimizar os efeitos do álcool e das drogas para melhoria do bem estar físico, mental e social do usuário.

Para isso, são realizados trabalhos de campo nas ruas, em hospitais e em prisões, buscando tornar mais acessíveis os serviços de saúde, e propiciar oportunidades de reabilitação social à pessoa e cuidados a situação da família, que normalmente é afetada.

É importante salientar o foco ao preparo dos profissionais, que entre programas existentes e recomendações explícitas do Ministério da Saúde, teoricamente deveriam servir como meio de propagação e extensão de cuidados humanitários e respeitosos anteriormente previstos.

Em meio ao tema saúde mental, álcool e drogas, tem-se também o auxilio fundamental dos CAPS ad – serviços de saúde mental de base comunitária preconizados pelas atuais políticas de saúde mental, como um dos componentes da rede de atenção às demandas decorrentes do uso de substâncias psicoativas (Sousa et al., 2012).



Você gostaria de ler mais sobre outros temas interessantes da Saúde Mental? É só clicar aqui. A gente deixa o link prontinho pra você!

2 Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *