Pinturas que expressam Saúde Mental

A arte vem sendo usada como forma de terapia há milhares de anos. Muitos psicoterapeutas modernos continuam incorporando a arte em seus tratamentos.

Na arte encontramos um caminho seguro para expressar emoções e de uma maneira criativa. Artistas que exploram o tema da saúde mental em suas pinturas podem ser uma grande fonte de conforto e inspiração para aqueles que estão lutando com transtornos emocionais, além de serem uma expressão única da arte.

Para ilustrar o papel das pinturas na saúde mental, separamos algumas obras de pintores consagrados

Self-Portrait With Bandaged Ear – Vincent Van Goghm 1889

Um exemplo e o “Self-Portrait With Bandaged Ear”, de Van Gogh, de como a arte pode avançar o diálogo em torno do sofrimento e da vulnerabilidade.

Vincent Van Gogh (1853-1890) pintou trinta e cinco autorretratos entre os anos 1886 e 1889.  Dois deles são com a orelha coberta com uma faixa branca.  Mas por que ele aparece com a orelha enfaixada? Existe mais de uma versão como resposta.

Naquele dia, Van Gogh havia mais uma vez brigado com o amigo e também pintor Paul Gauguin (1848-1903), que morava com ele na Casa Amarela. Os dois já não conseguiam se entender. “Vincent e eu não podemos simplesmente viver juntos em paz devido à incompatibilidade de temperamentos”, reclamou Gauguin a Theo, irmão de Vincent. A situação tornou-se insustentável e Gauguin resolveu ir embora. Vincent se desesperou.

A primeira versão diz que, após o jantar, Vincent teria usado uma faca para cortar um pedaço de sua orelha esquerda, dizendo-lhe para que guardasse o objeto com cuidado. Essa é a versão mais conhecida.

Minha Ama e Eu – Frida Kahlo,1937

Embora Frida Kahlo não seja conhecida como uma pintora essencialmente de saúde mental, sua intimidade e paixão presentes em muitas de suas obras são simbólicas da relação entre a arte e a saúde mental.

Diante de diversos traumas físicos e emocionais, ela encontrou na arte uma maneira de lidar com a dor e o sofrimento transformando suas experiências em força e criatividade. Muitas de suas pinturas apresentam elementos autobiográficos que captam seus sentimentos e expressões que são extremamente pessoais.

Quando Frida Kahlo nasceu, sua mãe, Matilde Calderón, não tinha leite para amamentá-la. Especula-se que a mãe também tenha passado por um duro período de depressão pós parto. Por esses motivos Frida foi entregue à uma ama de leite indígena.  pintura de Frida, criada em 1937, registra esse momento da sua vida.

A imagem apresenta a própria figura de Frida com um corpo de bebê e uma cabeça de adulto. A Ama, por sua vez, não tem feições definidas e aparece como uma anônima carregando uma máscara pré-colombiana.

Do seio da ama, o leite que alimenta a pequena Frida. Vemos a imagem da fartura na mama direita da ama, na mama esquerda, onde Frida se encontra, observamos um desenho mais técnico dos caminhos que levam à glândula mamária.

Apesar de fisicamente próximas, ambas as figuras parecem distantes emocionalmente, elas sequer se olham.

Red Suit – Melissa Fish, The art of recovery, 2022


Um exemplo concreto de pinturas que expressam a saúde mental é a exposição “The Art of Recovery”, que traz obras de artistas que enfrentaram transtornos emocionais. Nessa exposição, as pinturas são utilizadas como uma forma de expressão livre e criativa que permite a esses artistas lidar e expor suas emoções.

Um desses exemplos é a obra Red Suit de Melissa Fish.

Nessa exposição, artistas encontram na arte uma maneira de lidar com questões emocionais e, ao mesmo tempo, estimular o bem-estar através do processo criativo.

O grito – Edvard Munch, 1893.


Outro exemplo de obra de arte que aborda o tema da saúde mental é a pintura “O Grito” de Edvard Munch. Embora a imagem do personagem gritante muitas vezes tenha sido interpretada como ansiedade ou medo, a obra também pode ser vista como uma expressão de sofrimento mental.

Suas telas são densas e abordam temas difíceis e estados emocionais de conflito. Assim, O Grito simboliza a solidão, a melancolia, a ansiedade e o medo.

Essa é uma das pinturas mais populares de todos os tempos e revela várias características de Munch: a força expressiva das linhas e o valor simbólico da cor.

Um registro de Munch, com a data de 22 de janeiro de 1892, conta o episódio onde que o artista estava passeando em Oslo com dois amigos e ao passar por uma ponte, sentiu um misto de melancolia e ansiedade.

O artista teve uma crise nervosa em 1908, quando morava em Berlim e decidiu voltar para a Noruega, onde viveu os últimos 20 anos da sua vida em solidão.

A cena mostra alguém em desespero e combina com o estado de espírito do artista, que durante a sua vida enfrentou vários problemas psicológicos e familiares.

Ha uma frase escrita a lápis na parte superior esquerda da tela, quase imperceptível.  A tradução é “Só pode ter sido pintado por um louco“.

Somedays feel like this – Sonaksham, 2020

Além de esclarecer equívocos comuns sobre vários transtornos mentais, as ilustrações impressionantes de Sonaksha Iyengar, ilustradora e escritora queer radicada em Bangalore, também abordam a imagem corporal, deficiência, feminismo, gênero, sexualidade.

ARTE E PSIQUIATRIA – Nise da Silveira

Com o intuito de fazer com que todos pudessem expressar seu mundo interior, Nise foi abrindo espaço no hospital, na mente de médicos e no coração dos seus clientes. Fundou setores dedicados a trabalhos manuais, como marcenaria e sapataria, aulas de diversos esportes, oficinas de teatro e ateliês de desenho e pintura, todos eles ligados por laços da compreensão e afeto.

Os estudos realizados por Nise da Silveira baseados na produção artística eram realizados de maneira individual. O afeto e o exercício de escuta que Nise fez nascer estimulavam a cada um criar livremente. Atraves da análise de imagens de um autor, Nise deduzia os significados da produção.

Museu de Imagens do Inconsciente – Emygdio de Barros

Emygdio frequentou o ateliê da Seção de Terapêutica Ocupacional. Apesar dos longos anos de internação em condições adversas e sem nunca haver pintado antes ele revelou um talento incomum.

Suas obras, desmentindo os preconceitos dominantes na psiquiatria, foram desde logo aceitas no mundo da arte.

Conclusão

As pinturas que abordam o tema da saúde mental ajudam a promover um melhor entendimento e conscientização sobre as lutas emocionais que muitos enfrentam. Ao oferecer uma representação gráfica de problemas mentais, essas obras podem auxiliar na desmistificação de pré conceitos ou estereótipos.

A arte tem um poder incomparável de evocar emoções e conectar as pessoas em um nível mais profundo. Ao visualizar uma obra que aborda a saúde mental, talvez possamos compreender melhor as diferentes experiências das pessoas.

Como uma ferramenta terapêutica, a arte pode ser uma excelente aliada na promoção da saúde mental e no combate ao estigma ainda associado a tais questões.

Referencias

https://healing-transitions.org/art-of-recovery/

http://www.artenarede.com/a-orelha-cortada/

https://www.culturagenial.com/obras-frida-kahlo/

https://www.domestika.org/pt/blog/9399-10-perfis-criativos-que-usam-arte-para-falar-de-saude-mental

11 Comentários


  1. Sou hoje uma psicóloga aposentada. Mas ainda trabalho como funcionária pública municipal na área da Educação. Quando trabalhava em meu consultório particular, lançavamão da arte e incentivava os meus pacientes a se expressarem através dela. Os resultados eram positivos.

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    1. Sou Sérgio Martins, Moro em catalão GO,sou professor de pintura a 30 anos, tenho alunos depressivos, autistas ,entre outros,
      A pintura como terpia traz resultados excelentes,eu tenho comprovação disso através de relatos dos meus alunos,é a arte como um resgate psicológico em situações, geralmente muito difíceis,nas quais as pessoas encontram um caminho literalmente mais colorido para suas vidas.

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  2. Muito bom o texto, apenas um detalhe no referente a Van Gogh: estive no museu em Amsterdam e a informação que fornecem lá é diferente. É explicado que numa das muitas brigas com Paul, Van Gogh o teria atacado com a navalha. Depois disso, e sem ferir Paul, ele teria cortado a própria orelha.

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    1. Conteúdo maravilhoso, sou artista plástica e com o avanço da idade sinto como sou cada vez mais dependente da pintura para me manter livre da depressão e decadencias naturais.
      A liberdade de expressão também vai me guiando sem outras preocupações .
      @rtenpithan

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  3. Amei a reportagem . Se essas mentes são consideradas de um louco , peço a Deus que me enlouqueça . Quisera eu traduzir o mundo , o meu interior com tanta beleza,
    com tantas cores , com tanta sensibilidade .

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  4. Artigo maravilhoso.
    Como fico sabendo mais detalhes sobre o workshop de fevereiro?
    Obrigada!

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  5. Texto de grande importância, elucidativo, quanto as possibilidades artisticas das pessoas acometidas por doencas mentais, como forma de expessar semtimentos.
    Esse procedimento é válido, pra pacientes com Alzheimer?…

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