Os segredos da Psicologia Analítica de C .G . Jung

A história da humanidade tem em seu histórico a presença de diversos gênios, de pessoas a frente de seu tempo, revolucionários por perspicácia e inteligência; pessoas que mudariam a trajetória do saber através de seus conhecimentos.

A figura de Carl Gustav Jung representa uma dessas pessoas. Jung está entre os maiores da humanidade. Faz parte de um seleto grupo composto por Einstein, Darwin, Newton e tantos outros que poderíamos citar aqui.

Jung redescobriu o inconsciente humano por meio de seus estudos sobre psicologia analítica. Sua teoria faz jus a sua inteligência e se mantém presente em tudo; sua influência é imensurável e impacta a saúde mental universal mesmo nos dias de hoje.

São por esses e outros motivos que decidimos nos debruçar sobre a pessoa e os conteúdos eternizados por Jung no texto que segue, tamanha a importância que tem para a ciência que admiramos, igualmente para a humanidade da qual fazemos parte.

Conheçamos um pouco mais sobre a figura ilustre de Carl Gustav Jung e os segredos de sua teoria…

Um pouco sobre a história de Carl Gustav Jung

Nascido na Suíça, em 1875, filho de pais religiosos, Jung foi um jovem bastante influenciado pelas práticas de seu pai – um pastor luterano – e pelos conteúdos de natureza religiosa que circundavam seu ambiente familiar.

Ao que tudo indica, Jung teria sido um homem extremamente estudioso, místico e interessado pelos fenômenos psíquicos ao longo de sua vida, não atoa dedicando maior parte dela ao entendimento profundo desses mesmos fenômenos.

Era médico e psiquiatra de formação, mas uma figura também muito interessada em religião, filosofia, antropologia, física e quais quer outras ciências que pudessem contribuir à ciência e aos estudos dos conteúdos que amava e pesquisava.

Teve contato com diversos intelectuais de sua época. Foi contemporâneo de Einstein, com quem trocou ideias ao longo de sua vida enquanto pesquisador, e teria se dedicado a estudos acerca de teorias filosóficas primordiais, como as de Nitzsche e Kant.

Enquanto homem de opinião forte, baseou suas teorias na ideia de que o ser humano deveria ser analisado segundo sua realidade total, complexa, nunca dissociado de seu contexto social, cultural e/ou familiar.

Sua linha de pensamento chamava a atenção desde muito cedo, e em decorrência disso teve em sua trajetória a oportunidade de conhecer e trabalhar com Sigmund Freud, alguém com quem dividiria discussões, uma grande admiração, conhecimentos e alguns (muitos) desentendimentos histórico-conceituais.

Freud e Jung, um em cada extremo da primeira fileira

A parceria não duraria, dado que Jung não aceitaria as insistências de Freud, de que as causas dos conflitos psíquicos envolveriam sempre algum tipo de trauma de natureza sexual, e Freud, por outro lado, não admitiria o interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes válidas de seus estudos (Portillo, 2001).

Apesar dos acontecimentos, as discussões com Freud serviriam de impulso para que Jung continuasse com suas próprias buscas, desenvolvendo também suas próprias teorias. Suas contribuições para a ciência que amava tornaram-se distintas, próprias e enriquecedoras a sua maneira.

O conceito de inconsciente para C. G. Jung

Diferente de Freud, que via o inconsciente como um depósito de elementos rejeitados pela consciência somente, Jung acreditava que o inconsciente humano tinha capacidades ainda pouco conhecidas, podendo ir além daquilo que lhe era atribuído normalmente.

A ideia de Jung a esse respeito era a de que o inconsciente existiria para agir como um guia ao seres humanos. Fosse produzindo conteúdos, reagrupando ou armazenando outros, ou trabalhando diretamente com o consciente, numa relação de ajuste e complementariedade, o inconsciente seria o mestre da psique humana.

Jung classificou o inconsciente em duas partes distintas, mas complementares entre si. A uma delas ele atribuiria o nome de inconsciente pessoal, enquanto a segunda seria chamada de inconsciente coletivo.

O inconsciente pessoal em sua lógica seria a camada do inconsciente mais próxima da consciência, uma parte dessa estrutura passível de absorver conteúdos do desenvolvimento humano não compatíveis com as tendências do consciente, sendo portanto escondidos/guardados.

Estariam no inconsciente pessoal, por exemplo, nossas percepções subjetivas,  elementos captados pelos sentidos humanos, mas que passariam desapercebidos em forma de fatos de diferentes naturezas, não optados pelo consciente como sendo os de maior importância em um determinado momento.

Essas disposições fariam do inconsciente pessoal uma espécie de grande banco de dados da psique humana (o todo psicológico).  A consciência utilizá-lo-ia como depósito de armazenamento para diferentes conteúdos, capazes de surgir na própria consciência a qualquer momento necessário.

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Continuando, a existência de um inconsciente coletivo seria considerada a maior descoberta de C. G. Jung, dado que essa parte do inconsciente seria para ele a camada mais profunda da psique humana, constituída majoritariamente por conteúdos supostamente herdados de vivências longínquas de toda a humanidade.

A ideia seria de que a existência do inconsciente coletivo não dependeria das experiências individuais de cada um como dependeria o inconsciente pessoal. Seus conteúdos, seus dados, emergiriam apenas por meio de experiências consideradas naturais aos seres humanos, como algo inato a todos eles.

Estaria instaurada nesta camada do inconsciente a morada de traços fundamentais da espécie humana, prontos para serem concretizados por meio dessas vivências naturais, tão reforçadas ao longo de anos de trabalho e pesquisa realizados por Jung.

Era essa sua ideia fundamental a respeito do inconsciente coletivo; um elemento que faria de todo homem e mulher iguais por sua natureza humana; uma estrutura em que conhecimentos da humanidade seriam armazenados, articulados e compartilhados com o ser, somente quando existisse a necessidade e a possibilidade para tal.

O conceito de arquétipo e os conteúdos fundamentais do inconsciente coletivo

Na concepção de Jung, a estrutura do inconsciente coletivo teria como matéria prima os arquétipos – elementos psicológicos capazes de proporcionar a aquisição de determinados comportamentos, o seguir de determinados caminhos do desenvolvimento humano e o aprender de determinadas atitudes, tanto materiais quanto intelectuais, típicas da humanidade.

Jung classificaria os arquétipos em sua teoria como traços funcionais do inconsciente coletivo. Em suas palavras, ele dizia que:

“ Existem tantos arquétipos quantas as situações típicas da vida. Uma repetição infinita gravou estas experiências em nossa constituição psíquica, não sob a forma de imagens saturadas de conteúdo, mas a princípio somente como formas sem conteúdo que representavam apenas a possibilidade de um certo tipo de percepção e de ação.” (Jung apud Portillo, 2001).

Alguns dos arquétipos classificados por Jung

Jung comprovou sua teoria dos arquétipos analisando o comportamento humano, observando o desenvolvimento das pessoas em diferentes contextos. Usou da religião de povos antigos, do simbolismo inerente as culturas humanas, para traçar seus argumentos e solidificar os conteúdos daquilo que falava em suas obras.

Para ele, os arquétipos e o inconsciente coletivo teriam influência direta na constituição de cada um. Eles influenciariam na construção da personalidade, na maneira como se sente, na maneira como se age, como se pensa, entregando à pessoa capacidades distintas do considerado animalesco, algo único a nossa espécie.

Os arquétipos yunguianos e suas funcionalidades dentro da psique

Mesmo sabida a existência de diversos arquétipos para situações comuns da vida humana, Jung enfatizou em sua obra a presença de alguns deles por recorrência de exibição em suas pesquisas. Falemos sobre eles…

PERSONA

Como se sabe, ao longo dos anos, a humanidade tornou-se cada vez mais social. Com a ampliação de suas comunidades, os seres humanos passaram então a desenvolver características de adaptação e relacionamento para viver em espaços compartilhados com outras pessoas.

De acordo com Jung, a ascensão do arquétipo da persona surge em decorrência desse movimento social. Nesse sentido, a persona seria o arquétipo responsável por permitir com que esse tipo de adaptação acontecesse e se desenvolvesse.

A persona nada mais seria que a representação da máscara ou fachada aparente de cada indivíduo em determinado ambiente, exibida de maneira a facilitar a comunicação com o seu mundo externo, com a sociedade em que vive e de acordo com os papéis por ela exigidos (Portillo, 2001).

O objetivo principal desse arquétipo seria permitir a integração social da pessoa ao grupo social ao qual pertence. Ele é muito importante, dado que somos seres sociais e constantemente participamos de relacionamentos diferentes com outros seres humanos.

É um arquétipo que permite a unidade social. O ser humano é um ser comunitário e sem esse elemento fundamental, provavelmente não teria sobrevivido a existência de outras espécies, falando em termos históricos.

Dentro da persona, existiriam papéis como os de pai, mãe, marido, esposa, filho, filha, amigo, profissional de determinada área, dentre uma série de outros papéis possíveis de serem discorridos por todos nós.

ANIMUS E ANIMA

Sendo o arquétipo da persona a face externa da psique humana, Jung considerava os arquétipos animus e anima – a formar um equilíbrio psicológico – como sendo a face interna de toda estrutura psicossocial do ser.

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De forma bem simples, anima seria o lado feminino do homem, enquanto animus, o lado masculino da mulher, dado que, além de características biológicas, homens e mulheres também compartilhariam características psicológicas entre si.

O homem traria consigo, como herança, a imagem da mulher; enquanto a mulher traria consigo, também em forma de herança, a imagem do homem. E não quaisquer imagens, de uma ou de outra pessoa, mas sim imagens arquetípicas, ou seja, formadas ao longo da existência humana e sedimentadas através de experiências opostas entre os sexos.

Aquilo que Jung chamou de projeção seria o ato, por exemplo, do homem ou da mulher projetarem em seus parceiros as figuras arquetípicas que possuem em relação ao sexo oposto. O homem, a princípio, projetaria em sua mãe, enquanto a mulher, normalmente, projetaria em seu pai.

A definição desse movimento em suas palavras diz que:

“a projeção é um processo inconsciente automático, através do qual um conteúdo inconsciente para o sujeito é transferido para um objeto, fazendo com que este conteúdo pareça pertencer ao objeto.  A projeção cessa no momento em que se torna consciente, isto é, ao ser constatado que o conteúdo pertence ao sujeito.” (Jung apud Portillo, 2001).

Na visão de Jung, animus e anima existiriam para garantir o equilíbrio no relacionamento entre homens e mulheres. Esse efeito aconteceria tanto exteriormente, em seus relacionamentos com outras figuras femininas e masculinas, quanto interiormente, na relação que estabeleceriam com seus egos ao longo da vida.

SOMBRA

De acordo com Jung, o arquétipo da sombra liga-se a tudo que nós enquanto seres humanos não queremos exibir por meio de nossas atitudes, de nossas falas, de nossa personalidade e de outras formas de nos expressarmos com o mundo.

A sombra seria o arquétipo receptáculo dos aspectos que foram suprimidos no desenvolvimento da persona – nossa face a ser exibida a outras pessoas do nosso convívio em sociedade.

Jung tratava a sombra como eixo do processo de individuação de cada ser humano. Quando possíveis defeitos escondidos por meio dela fossem integrados a consciência e entendidos, ele dizia que aquele a alcançar esse feito estaria um pouco mais próximo de se tornar um alguém por inteiro.

A sombra, mesmo servindo como esconderijo de características e outras coisas que não gostaríamos que outras pessoas vissem ou soubessem sobre nós, agiria como inspiração para melhorarmos, dando sinais de existência por meio da percepção humana.

A relação entre Ego e sombra seria responsável pelo tom da vida. Sendo assim, Jung concedia com razão a importância que esse arquétipo tinha para sua teoria acerca da maturidade psíquica do ser.

O processo de individuação do ser humano e a presença do Self

Em suas pesquisas, Jung teria percebido que a psique humana se desenvolveria de acordo com a busca pela chegada de um momento específico, quando Ego e sombra se alinhavam, permitindo com que o ser desse um passo a frente em relação ao psíquico, algo traduzido por ele como processo de individuação.

Na teoria, o processo de individuação, além de espontâneo, existiria apenas por meio de um único elemento primordial, que seria o confronto entre consciência e inconsciente ao longo da vida. A consciência seria responsável por responder e atender a mensagens do inconsciente, então daí surgiria a origem desse conflito.

Sendo assim, a individuação consistiria para Jung no amadurecimento dos componentes da personalidade de alguém, que progressivamente deixaria de usar suas máscaras, que  entenderia suas projeções em relação aos outros e que lidaria com as nuances do relacionamento entre seu Ego e sua sombra de maneira consciente.

A figura do Self entra em cena nesse momento, dado que o  Self seria o centro de toda a estrutura psicológica, e dele emanaria todo o potencial energético de que a psique disporia para ordenar os processos psíquicos e caminhar em função desse objetivo.

O reconhecimento do Self seria outro dos principais passos para  que alguém pudesse plenamente seguir em processo de busca por sua individualidade psíquica, por ser ele o responsável em direcionar as atitudes e pensamentos humanos em direção a maturidade e a autoanálise.

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Mais uma vez, o Ego exerceria papel fundamental na teoria de Jung, dado que ele seria a única estrutura capaz de permitir a tomada de consciência do Self pela própria consciência.

Dizia ele que, sem este conhecimento, não haveria integração de conteúdos inconscientes ao consciente, nem tão pouco individuação como um processo de “expansão da consciência”. A união entre Ego e Self seria fundamental para que o ser pudesse alcançar o máximo em termos de seu desenvolvimento psicológico.

O conceito de complexo e seu papel no desenvolvimento da psique humana

Como se sabe, experiências traumáticas podem ter impactos permanentes na mente e capacidade humanas. As consequências de um trauma tem o poder negativo de mudar a vida de uma pessoa que não consiga entende-lo, aceita-lo (caso seja possível) e supera-lo.

Na concepção de Jung, aquilo que grava um trauma como algo a permanecer e influenciar o sistema psicológico humano, recebe o nome de complexo. São entraves à consciência e ao inconsciente, capazes de desregular absolutamente os processos da psique humana.

Os complexos em si não seriam negativos, dado que sua superação poderia servir de inspiração e ignição de mudanças na vida de quem o tenha superado. No entanto, são suas consequências, antes mesmo da chance de entende-los, seu maior problema.

Na análise energética de Jung, os complexos seriam nós de energia afetiva, cheio de cargas emocionais, e normalmente incompatíveis com as habituais disposições e pensamentos exibidos pelo consciente em seus momentos mais brandos.

A superação de um complexo nessa lógica, o desenlace desse nó, seria fundamental para a saúde psicológica do ser. A continuidade do processo espontâneo de individuação dependeria do pleno entendimento dos complexos por parte de quem os vivencia.

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Os complexos, exercendo papéis importantes nos padrões de comportamento e nas reações emocionais que conseguimos ter diante dos acontecimentos de nossas vidas, só poderiam ser superados sendo vividos e percebidos como causadores de transtornos ao sistema psicológico.

Seus papéis seriam vitais na vida humana. O desenvolvimento psicológico teorizado por Jung, a estabilização do relacionamento Ego e sombra, a tomada de consciência sobre o Self pela própria consciência e a absorção de conteúdos inconscientes pela consciência, dependeriam da resolução individual de seus complexos.

Fechamento

A teoria e obra de Jung são extremamente mais extensas do que expomos neste texto. São anos de trabalho e de uma genialidade que impressiona pessoas há anos, e que ainda impressionará por séculos e mais séculos.

A psique humana é um todo incrivelmente complexo, mas com os ensinamentos de Jung pudemos chegar mais perto do que ela realmente significa, dos impactos positivos e negativos que ela pode ter em nossas vidas mesmo sem sabermos.

Estudar essa figura revolucionária acontece diariamente, todos os dias, ao redor do mundo todo. Nossa contribuição está dada por hora. Nós esperamos que seus conhecimentos possam elucidar os processos de individuação de mais e mais pessoas, ajudando a construir psiques mais saudáveis e cada vez mais promissoras.


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