A história da saúde mental se entrelaça com a história de milhares de pessoas ao redor do mundo, pessoas que dedicaram suas vidas aos cuidados e necessidades psicossociais de outras pessoas e tiveram suas contribuições concretizadas sob a forma de mudanças e avanços que enxergamos hoje.
Algumas delas tornar-se-iam cânones, seriam revolucionarias pela história, carreira e ideias que construíram, assumindo a posição de referências, ao mesmo tempo em que abriam portas para que outras revoluções acontecessem na área a qual tanto se dedicaram e nutriram – e algumas ainda nutrem – amor.
São referências que fizeram dos conhecimentos em saúde mental mais ricos, referências que ainda guiam o trabalho e os princípios de milhões de profissionais e trabalhadores do mundo todo em suas atividades diárias e de vida.
A importância que têm é indiscutível e suas lembranças fazem-se vivas de diversas formas, especialmente nos tratamentos humanitários que se desenvolvem hoje. Nossa lista carrega nomes importantes e que valem a pena serem conhecidos por todos!
Nise da Silveira (Brasil)
Foi apontando falhas na psiquiatria tradicional que Nise contestou e demonstrou soluções, dando novos contornos e sentidos aos tratamentos e às relações entre médicos, psiquiatras e as pessoas, naquela altura, consideradas loucas.
Grande admiradora da teoria de C.G. Jung, com quem trabalharia por alguns anos, Nise sustentava uma visão muito singular e contrária ao tradicionalismo psiquiátrico da época, de que a psicopatologia seria uma outra forma de experimentar e existir no mundo.
Nise acreditava na totalidade das pessoas e via como meio de transformar a vida de seus pacientes o conhecer de suas interioridades, de suas expressões, fundamentalmente por meio da arte, pela qual era tão apaixonada.
Nise da Silveira, acima de tudo, mudou a saúde mental brasileira para sempre. É, se não a maior, uma das maiores referência nacionais da área. Uma mulher extremamente capaz que acabou por se tornar um símbolo da nossa nação.
Thomas Szazs (Hungria)
Polêmico, amado por muitos e desgostado por outros, o húngaro, Thomas Szazs, foi um dos primeiros e principais críticos do modelo tradicional da psiquiatria mundial. Era psiquiatra e daí o início de seus embates.
Szazs, por meio de sua famosa teoria do mito da doença mental, abalou o universo da psicologia, da saúde mental e de áreas correlatas. Ao criticar a ciência da qual fazia parte apontando-a como um meio de controle social, Szasz rompeu barreiras e trouxe reflexões inéditas ao mundo e a sociedade como um todo.
Para ele, a psiquiatria não diagnosticaria, mas sim, estigmatizaria o indivíduo, ideia que seria desenvolvida por seus seguidores e estudiosos.
Erving Goffman (Canadá)
Canadense, cientista social; Erving Goffman foi um dos grandes estudiosos da sociologia da saúde, abordando temas como o estigma, as instituições manicomiais e as relações sociais estabelecidas dentro desses ambientes, e suas influências na vida fora deles, de maneira única e espetacular.
Desde o entendimento dos relacionamentos, até da forma como barreiras e imposições inerentes a esses lugares impactavam a vida de quem vivia neles, ambos fizeram parte de suas contribuições. Goffman nutriu grande interesse pela relação entre normalidade e “loucura” e até hoje é reconhecido pelas teorias revolucionárias que propôs.
Paulo Amarante (Brasil)
Homenageado como presidente de honra da ABRASME (Associação Brasileira de Saúde Mental), Paulo Amarante foi um dos precursores da luta antimanicomial no Brasil.
Realizou seus estudos na Itália, ao lado de líderes e pesquisadores importantes, sendo o responsável por trazer conhecimentos essenciais sobre o movimento antimanicomial italiano – um dos maiores do mundo – e seus ideais para o nosso país.
Amarante liderou a luta nacional pela reforma psiquiátrica e teve seu nome marcado na história do Brasil por meio das mudanças conquistadas após anos de batalhas nas ruas e institucionais ao lado de seus colegas pela garantia de direitos e outras necessidades às pessoas, brasileiras, em estado de dificuldade mental/psicológica.
Franco Basaglia (Itália)
Assim como Paulo Amarante foi para o Brasil uma das figuras mais fundamentais para a concretização da reforma psiquiátrica no país, Franco Basaglia o foi para a Itália e todo seu sistema de saúde mental.
Basaglia criticava a postura tradicional da cultura médica, que transformava o indivíduo e seu corpo em meros objetos de intervenção clínica. No campo das relações entre a sociedade e a loucura, ele assumia uma posição crítica para com a psiquiatria clássica e hospitalar, por esta se centrar no princípio do isolamento do indivíduo
Dirigindo o Serviço Hospitalar de Trieste, Basaglia foi responsável por guiar a luta italiana por melhor condições e por direitos em saúde mental. No ano de 1978, Basaglia estabeleceu a abolição dos hospitais psiquiátricos da Itália por meio da aprovação da lei que leva seu nome – a Lei Basaglia.
David Cooper (África do Sul e Londres)
Ao lado de outros pesquisadores importantes como Michel Foucault, Thomas Szazs e Ronald Lang, David Cooper fez parte dos primórdios intelectuais do movimento antipsiquiátrico mundial.
Cooper foi responsável por defender a ideia de que a “loucura” não seria uma doença mental, mas sim um estado de transição, uma posição psicológica abrupta diante de condições sociais precárias, experiências prévias traumáticas e contextos familiares conturbados.
Sua teoria foi refinada e hoje é possível ver sua forma de pensar em várias abordagens humanísticas desenvolvidas em tratamentos contemporâneos. Cooper empenhou-se em quebrar estigmas e provou, por exemplo, que a esquizofrenia tinha cura e que não necessariamente se chegaria a ela por meio da psiquiatria.
Pedro Gabriel Delgado (Brasil)
Atuando atualmente como professor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, Pedro Gabriel Delgado foi militante da luta antimanicomial no Brasil e ex-coordenador de saúde mental do Ministério da Saúde nos anos de 2000-2010, tornando-se um dos principais apoiadores brasileiros da reforma psiquiátrica.
Irmão de Paulo Delgado – o deputado que propôs e que leva seu nome na lei popularmente conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica –, Pedro Gabriel representou a luta institucionalizada pela conquista de direitos e avanços na saúde mental brasileira em seus momentos mais difíceis, e continua a ser seu símbolo até hoje.
Ronald Laing (Escócia)
Enquanto parte do movimento antipsiquiátrico mundial e estudioso da filosofia, o psiquiatra escocês, Ronald Laing, revolucionou a maneira de pensar sobre saúde mental de sua época ao constatar em teoria o valor das experiências de vida no entendimento de comportamentos exibidos em diversos transtornos psicológicos.
As ideias de Laing sobre as causas e o tratamento das disfunções mentais, fortemente influenciadas pela filosofia de Jean-Paul Sartre, foram de encontro à psiquiatria ortodoxa. Para ele, os sentimentos expressos pelos pacientes eram descrições válidas da experiência vivida, mais do que simples sintomas de um distúrbio.
Suas teorias abriram as portas para que novas concepções a respeito das origens de transtornos mentais surgissem, assim como para novas formas de trata-los e de respeitar as vivências do outro.
Michel Foucault (França)
Conhecido fundamentalmente por sua posição enquanto sociólogo e filósofo da relação entre poder e conhecimento, Michel Foucault passa a fazer parte do movimento antipsiquiátrico ao demarcar sua visão a respeito da loucura como algo criado socialmente.
Sua obra, “A história da loucura”, o colocou em contato com outros nomes da época e suas contribuições foram importantíssimas para o fortalecimento da corrente antipsiquiátrica, fomentando a quebra de estigmas e um outro entendimento sobre questões psicológicas.
Maxwell Jones (África do Sul)
Das ideias de Maxwell Jones teria nascido o conceito de comunidade terapêutica. As comunidades terapêuticas representaram uma revolução nos tratamentos em saúde mental na metade do século XX e estão presentes até hoje em vários países do mundo como abordagem terapêutica.
Jones teria sido o responsável pelo desenvolvimento das primeiras comunidades, substituindo pela primeira vez o modelo anterior de tratamentos rígidos, baseados em normas, insensibilidade e “tecnologias” invasivas.
Credita-se à Jones a concepção de ambientes de conversa e integração como prática terapêutica. Para ele, o ambiente terapêutico existiria para beneficiar a recuperação do indivíduo, despertando um processo contínuo de reinserção e reeducação sociais. Daí sua importância revolucionária.
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