Precisamos falar sobre: A saúde mental dos profissionais da saúde

A saúde mental dos profissionais da saúde é um assunto muito importante que temos que conversar atualmente; pois, após a crise epidemiológica da COVID-19 o setor da saúde sofreu uma sobrecarga de trabalho que agravou a condição mental dos trabalhadores.

Então, discutir os problemas e encontrar soluções é fundamental para o devido funcionamento dos setores.

Mesmo antes da pandemia, os profissionais da área já enfrentavam condições que apontavam para situações críticas na saúde mental do indivíduo.

Um importante ponto que merece ser destacado ao estudarmos a área da saúde é o caráter altamente ansiogênico do exercício profissional, já que o contato íntimo e frequente com a dor, o sofrimento, a intimidade corporal e emocional com os pacientes podem gerar algumas complicações na condição mental do profissional da saúde.

Segundo um relato obtido por um interno da medicina, Filipe Nakai, a carga horária de trabalho do estudante nos hospitais públicos pode ser muitas vezes imprevisível e exaustiva. Dependendo da especialização, a jornada de trabalho pode bater até 12h, de segunda a segunda. Muitas vezes Filipe teve que acordar às 3h da manhã e voltar para a casa apenas às 19h, sem ter a oportunidade de sequer almoçar.

Quando questionado sobre o que sentia nessa situação, o entrevistado relata que não tinha problemas em atender quaisquer casos que surgissem, mas a sobrecarga do trabalho deixava-o muito cansado e irritado no final do dia.

Assim, a própria condição de trabalho de alguns setores da saúde apresenta características intrínsecas de exaustão, cobrança e responsabilidade, o que, em excesso, pode acarretar em disfunções psicoemocionais, se o profissional não fizer um acompanhamento de sua própria saúde mental.

Para piorar, a pandemia do COVID-19 encheu ainda mais os hospitais, aumentando o número de pacientes a serem atendidos e, com isso, a carga de trabalho a ser feita pelos profissionais da saúde. Porém, em contrapartida, muitos hospitais tiveram que lidar com o aumento da demanda pela saúde sem terem o investimento necessário para promovê-la.

A falta de distribuição desses materiais para diversos estados brasileiros fizeram com que os profissionais da saúde, sobretudo enfermeiros e técnicos de enfermagem, sentissem o impacto múltiplo causado pelo coronavírus: o impacto na saúde, na economia e na sociedade.

Diante disto, o medo e a insegurança antecederam a chegada do vírus, colocando as equipes de enfermagem em estado de alerta em que muitos levantaram o seguinte questionamento: Estamos preparados para enfrentar um inimigo de tamanha magnitude?

Além disso, como atestam os estudos, os profissionais de saúde estão em alto risco de adquirir COVID-19 devido à exposição a pacientes.

Principalmente nos hospitais em que há disponibilidade limitada de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), falta de treinamento adequado, (CHIEN CC e CHICY, 2020) e uso inadequado de EPI (COOK TM, 2020) o que acarreta na dificuldade em controlar a disseminação dentro da ala hospitalar.

É imprescindível ressaltar que muitos profissionais de saúde foram infectados e vários perderam a vida desde o início da pandemia (LIMA CKT,et al.,2020) e, diante destes acontecimentos, as equipes de saúde estão sob constante pressão psicológica (CHEN Q, et al., 2020).

Em todo mundo, a enfermagem tem trabalhado sob constante pressão, combatendo não apenas o vírus, como também diversas dificuldades impostas sobretudo pelo risco de infecção (SMITH,et al., 2020).

Devido a esse rápido crescimento do número de profissionais de saúde infectados pelo COVID-19 e todo o estresse e pressão que têm sofrido, a saúde mental desses profissionais tem sido apontada como uma grande preocupação.

Em estudo realizado no Canadá no surto de COVID-19, Pereira MD, et al. (2020) encontraram sintomas que exemplificam prejuízo na saúde mental dos trabalhadores da saúde, como sensação de alto risco de contaminação, efeito da doença na vida profissional e humor deprimido.

Assim, as equipes de enfermagem não passaram por mudanças apenas na sua rotina de trabalho, como também pode-se observar que o medo relacionado ao risco de contágio hospitalar levou muitos profissionais a adotarem medidas severas de cuidados pessoais no ambiente familiar.

A maioria dos profissionais ressaltam que o maior receio seria uma possível transmissão do vírus para pessoas da família.

Diante disto, a rotina familiar desses profissionais também foi alterada drasticamente, levando-os a se adaptarem a nova realidade de forma abrupta, evitando contato com pai, mãe, esposo (a) e filhos.

Todas essas mudanças nos modos de vida tornaram esses profissionais mais ansiosos e inseguros, pois não se sabe quais proporções o vírus pode atingir e o quanto isso pode afetar nas suas vidas públicas e privadas.

Essa é uma preocupação relacionada não apenas ao número de pessoas que podem ser contaminadas, mas também quanto a segurança dos profissionais diante do enfrentamento da doença, uma vez que precisam atuar com proteção reduzida pela escassez de material.

Outro ponto importante diz respeito ao preparo dos profissionais quanto à assistência a pacientes diagnosticados com COVID-19, visto que o tratamento é incerto e o risco de morte é elevado a depender o perfil do paciente.

Em um relato obtido pela enfermeira Giovanna Zanetti de Oliveira, a relação entre pacientes e profissionais é muitas vezes delicada.

Ao relatar um caso em que teve que atender uma paciente da sua idade contaminada pelo COVID-19, Giovanna expressa a compaixão que teve ao sentir os medos e as dores que paciente passava.

Na tentativa de amenizar o sofrimento, a enfermeira tranquilizava a paciente com palavras de esperança e confiança no tratamento realizado. Segundo o relato, a paciente perdeu toda a sua família para a doença e sentia muito medo de vir a falecer também.

Infelizmente, foi o que aconteceu e, segundo a Giovanna, encarar essa situação foi um grande desafio no dia a dia da equipe, gerando um clima de medo e insegurança.

Portanto, o estado psicológico desses profissionais foi afetado drasticamente nos últimos tempos, visto que tiveram que enfrentar situações adversas tanto no ambiente de trabalho como no ambiente familiar.

Com o aumento de desgaste psicológico, é possível que sintomas psiquiátricos sejam intensificados em indivíduos com predisposições (KELVIN DJ e RUBINHO S, 2020). Diante disto, é provável que as taxas de suicídio aumentem entre os profissionais de saúde em 2020.

Segundo Goyal K,et al. (2020), foram identificados alguns casos de suicídios entre profissionais de saúde na Índia e na Itália que estavam infectados por COVID-19, comprovando que as consequências emocionais em decorrência da pandemia devem ser analisadas para adoção de estratégias que minimizem tais impactos.

Por isso, discutir sobre a saúde mental dos profissionais de saúde no Brasil é de extrema importância para evitarmos quadros semelhantes.

Assim, é necessário enfatizar que mesmo um profissional da saúde precisa procurar por cuidados de outros profissionais para poder lidar com essas situações. Porque, até mesmo para médicos, enfermeiras, psiquiatras e etc, a autodiagnosticação e a automedicação podem se tornar um equívoco para a promoção da saúde.

Assim, é de extrema importância que os trabalhadores desse setor busquem orientações de profissionais da psicologia e da psiquiatria para enfrentarem os desafios que a pandemia tem gerado.

Dessa forma, a recomendação é que os profissionais da saúde tirem um tempo para se preocuparem consigo mesmo para promoverem a própria saúde, principalmente mental.

Portanto, recomendamos que os profissionais da área da saúde adotem boas práticas em saúde mental tanto no ambiente de trabalho como no ambiente familiar, entre elas são:

  • manter o isolamento físico, mas não social entre família e amigos (manter o contato por redes sociais, chamadas de vídeo, etc.),
  • conversar constantemente com a equipe para ouvir e compreender os problemas individuais que cada profissional pode estar enfrentando;
  • Rellatar os casos de sobrecarga de trabalho para alcançar um equilíbrio entre a saúde e a profissão;
  • Procurar por plantões psicológicos dentro dos Conselhos de cada profissão (Enfermagem, Medicina, Serviço Social, etc…) para ter um acompanhamento profissional para a promoção da saúde mental;
  • Além de procurar por exercícios que beneficiam diretamente a mente humana, como por exemplo: meditação, música, arteterapia, antroposofia, etc.

Para conhecer um pouco mais sobre as práticas que podem mudar a sua saúde mental, acesse:

https://blog.cenatcursos.com.br/8-terapias-alternativas-do-sus-com-o-poder-de-mudar-sua-saude-mental/

Curta, compartilhe e deixe o seu comentário para que possamos mudar juntos o cenário da saúde mental no Brasil 🙂

Referências:

– LIMA CKT, et al. O impacto emocional do Coronavírus 2019-nCoV (nova doença de Coronavírus). Psiquiatry Research, 2020; 287

– COOK TM. Personal protective equipment during the COVID-19 pandemic a narrative review. Anaesthesia, 2020.

 – CHEN Q, et al. Mental Health care for medical staff in China during the COVID-19 outbreak. The Lancet Psychiatry, 2020.

– KELVIN DJ, RUBINO S. Fear of the novel coronavirus. J. Infect. Dev. Ctries, 2020 14(1).

– GOYAL K, et al. Fear of COVID 2019: First suicidal case in India! Asian J. Psychiatr, 2020; 49.

– SMITH et al. COVID-19: Emerging compassion, courage and resilience in the face of misinformation and adversity. Journal of Clinical Nursing, 2020.

3 Comentários


  1. Muito preocupante a condição de saúde mental dos profissionais de saúde. Também sou profissional de saúde mas num CAPS e vejo como estamos cansados com a atual realidade. Houve um aumento de casos de surto psicótico, tentativas de suicídio, abuso de drogas e crises de ansiedade, e ao mesmo tempo uma redução de ferramentas de trabalho devido ao distanciamento social (oficinas terapêuticas, passeios e festas). Então, lidar com a dor e sofrimento do outro com apenas ou praticamente com nossa escuta e nosso corpo, tem sido muito desgaste. Também há o nosso medo de contaminação, de transmissão da doença e desgaste físico e mental. Vamos levar muito tempo para reduzir esse nível de estresse.

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    1. Muito importante o seu comentário, Eliana.
      Ressalta ainda mais a importância do profissional da saúde buscar por auxílio para superar esses momentos de dificuldade.
      Não esqueça de se cuidar!
      Abraços 🙂

      Responder

    2. Muito importante o seu comentário, Eliana.
      Ressalta ainda mais a importância do profissional da saúde buscar por auxílio para superar esses momentos de dificuldade.
      Não esqueça de se cuidar!
      Abraços 🙂

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