Serviços de saúde mental que promovem direitos e boas práticas – OMS

Seguindo com o nosso projeto com o Guidance on community mental health services da OMS, ao longo das próximas semanas nós traremos algumas instituições ao redor do mundo que fazem serviços de saúde mental para promovem direitos e boas práticas de relação para àqueles que utilizam.

Os serviços estão distribuídos em: atenção à crise; serviço geral de atenção à saúde mental; centros comunitários de saúde mental; serviços de extensão à comunidade e serviços com suporte à vida. Cada um deles possui um enfoque específico, sendo de fundamental importância conhecer o funcionamento de todos eles para que possamos atender as necessidades de cada caso.

Hoje, nós iremos tratar a respeito dos serviços em atenção à crise em saúde mental, falando um pouco de quatro instituições que vêm fazendo a diferença no cenário da saúde mental.

Acompanhe a seguir!

Serviços de atenção à crise em saúde mental

Nessa secção vamos mostrar uma seleção de serviços que fornecem atendimento e apoio na atenção à crise sem recorrer ao uso da força ou da coerção, respeitando o direito à capacidade do indivíduo e uma série de outros direitos relacionados à liberdade.

Isso não significa dizer que os serviços de saúde mental descritos neste guia pretendem ser interpretados como as melhores práticas, mas sim para demonstrar o potencial amplo que os serviços de saúde mental baseados na comunidade podem promover na garantia aos direitos humanos e para o processo de recovery.

A intenção é apresentar um menu de opções de boas práticas para que nós possamos nos adaptar para se adequar às realidades de cada cenário.

Assim, cabe a nós aprendermos os princípios e as práticas que norteiam esses serviços para refletirmos e encontrarmos em grupo as melhores práticas para cada Estado, município, instituição ou grupo.

Dessa forma, o guia deve ser visto como um caminho que podemos tomar para decidir o que devemos e não devemos fazer na nossa comunidade, dentro da nossa realidade.

Afiya House Massachusetts (United States of America)

Inaugurada em 2012, a Afiya House é o único refúgio existente no oeste de Massachussetts. O serviço está disponível para qualquer pessoa maior de 18 anos que  passa por um sofrimento emocional ou mental significativo, para uma estadia de até sete noites.

Isso inclui pessoas até mesmo aqueles que vivem sem casa, mas a falta de moradia não é uma razão independente para permanecerem além do intervalo.

Indivíduos que precisam de cuidados pessoais práticos ou que precisam de ajuda com a administração de medicamentos, geralmente, não são elegíveis, a menos que tenham algum acompanhante externo para realizar a assistência.

As pessoas que ficam na Afiya House são automaticamente conectadas com todas as outras atividades da Wildflower Alliance, e todas as pessoas que trabalham na Afiya House são consideradas funcionários da Aliança.

Todos que ficam na Afiya podem entrar e sair livremente para continuarem sua programação regular a fim de frequentarem escola, trabalho, obrigações e outros compromissos da comunidade.

A casa pode acomodar três pessoas a qualquer momento em quartos privativos, com acesso a cozinha e alimentos básicos, salas comuns e recursos como livros, materiais de arte, instrumentos musicais, tapetes de ioga, etc.

– Princípios e valores fundamentais da instituição:

  • Respeito pela capacidade legal

Afiya enfatiza a importância da escolha e da autodeterminação ao fornecer apoio aos pares. Ao entrar na trégua, as pessoas são informadas sobre questões de direitos humanos; eles também são informados do oficial de direitos humanos de Afiya e de contatos terceirizados, a quem eles podem acessar se pensarem que estão sendo maltratados de alguma forma.

Os serviços de emergência de saúde mental nunca são chamados pela equipe, a menos que os próprios indivíduos identifiquem esse serviço como sua opção preferida.

Sofrimento emocional, pensamentos ou mesmo um plano de suicídio não são considerados uma emergência médica, e a equipe é treinada para apoiar as pessoas nessas situações, usando o Apoio Intencional dos Pares e as abordagens Alternativas ao Suicídio.

As pessoas hospedadas em Afiya podem, opcionalmente, preencherem uma folha de contato e suporte preferencial, no entanto, as informações são consideradas como propriedade do indivíduo, juntamente com quaisquer planos pessoais que possam ser desenvolvidos dentro do atendimento.

Além disso, a casa não divulga os nomes das pessoas que lá se hospedam.

  • Práticas não-coercitivas

O período de residência na Afiya House é totalmente voluntário e a decisão de ser iniciado é feito pela pessoa que realizará o tratamento.

Para evitar interações historicamente enraizadas em desequilíbrios de poder e coerção, os membros da equipe não recebem qualquer tipo de medicalização e, em vez disso, recebem uma caixa que fica trancada em seu quarto onde podem armazenar seus próprios medicamentos e outros objetos pessoais.

Além disso, os serviços de polícia ou ambulância só são contatados sem o consentimento do indivíduo em caso de emergência médica (como um ataque cardíaco, ser encontrado inconsciente, overdose de drogas, etc.), ou se houver uma ameaça grave de violência.

Se tal situação ocorrer, os membros da equipe subsequentemente realizam uma revisão interna.

Em 2015, ocorreu um incidente violento como resultado de uma tentativa de roubo; mas, além desse, não houve nenhum outro. Os funcionários são treinados usando o modelo de suporte Validation, Curiosity, Vulnerability, Community (VCVC) como abordagem para o manejo de situações nas quais uma pessoa está muito zangada e violenta.

  • Inclusão

A Afiya House reconhece a importância da inclusão na comunidade como um componente chave para oferecer apoio às pessoas que estão hospedadas na casa.

Assim, conseguem explorar os vários recursos que a comunidade local oferece, incluindo recursos espirituais, esportivos ou educacionais.

Além disso, a capacidade das pessoas entrarem e sairem livremente da instituição também ajuda a iniciar ou manter laços importantes que podem se estabelecer no trabalho, na escola ou em outros locais de lazer.

As pessoas que ficam em repouso são incentivadas a se conectarem com a família, amigos e / ou outros provedores e apoiadores de sua confiança e, para ajudar nisso, os membros da equipe podem auxiliar a situação comunicativa e facilitar os diálogos entre os pares.

A Afiya House também tem parceria com outros serviços da Wildflower Alliance, incluindo aqueles relacionados a habitação e sem-teto.

Wildflower Alliance opera quatro centros de recursos e oferece muitos workshops e eventos baseados na comunidade relacionados à educação, defesa, apoio de pares e cura alternativa, empregando uma série de “pontes da comunidade”.

  • Recovery

A Afiya House não força os indivíduos a criarem um plano de recovery, mas eles pedem a todas às pessoas que ficam na casa o preenchimento um formulário que descreve resumidamente o que esperam alcançar durante a estadia.

As esperanças podem incluir algo tão simples como regular seu horário de sono, mas também podem ser mais detalhadas e incluir o desenvolvimento de um plano de bem-estar pessoal.

Além do suporte oferecido pela equipe de pares, a abordagem de recuperação faz uso da Comunidade de Aprendizagem de Recuperação ponto a ponto mais ampla do Wildflower que permite o acesso a centros de recursos da comunidade e grupos durante e após sua estadia.

Entre Julho de 2016 e Junho de 2017 houveram 174 estadias na Afiya House e, desses 174 casos, em um relatório feito por uma pesquisa de avaliação anônima realizada por pessoas entrevistadas antes de sua partida, foi indicado que os usuários da Afiya House preferiam o ambiente proporcionado pela instituição ao em vez das casas de repouso tradicionais e clínicas.

Em comparação com hospitais e outros locais clínicos, os indivíduos relataram que se sentiram mais bem-vindos em Afiya e que as informações foram comunicadas de forma mais transparente. A maioria relatou que Afiya teve um impacto positivo em suas vidas.

Em termos de atender às expectativas de cada indivíduo para a sua estadia, 86% dos entrevistados relataram que a estadia proporcionou pelo menos uma esperança. As pessoas que ficaram na casa também relataram sentir que os membros da equipe da Afiya House realmente se importavam e se sentiam conectados com eles e a outros usuários do serviço.

Para conhecer um pouco mais sobre a instituição, acesse:

Afiya House – https://www.youtube.com/watch?v=9x8h3LvEB04

Link House Bristol, United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland

Um centro residencial de crise para mulheres de 18 anos ou mais, Link House foi estabelecido com o objetivo principal atender as mulheres em crise.

A instituição ajuda mulheres a lidarem com a crise desenvolvendo a capacidade da resiliência. O serviço é operado pela Missing Link, a maior provedora de serviços de saúde mental e habitação somente para mulheres em Bristol.

A casa, com cozinha e jardim partilhados, tem capacidade para abrigar até 10 mulheres de cada vez, que podem ficar no máximo pelo intervalo de quatro semanas.

O serviço aceita toda e qualquer mulher, incluindo aquelas que estão sob tratamento legal ou recebendo alta dos cuidados psiquiátricos. Mulheres com deficiências cognitivas e físicas também são bem-vindas se puderem cuidar de suas próprias necessidades e cuidados pessoais.

A entrada no serviço pode ser feita por meio de auto-referência, serviços de crise e recuperação ou médicos de clínica geral (GPs).

Para pessoas com psicose, pensamentos suicidas, bem como problemas com o uso de álcool e outras substâncias, são aceitas se estiverem fazendo um bom progresso em direção à recuperação.

As pessoas que ficam na Link House têm seu próprio funcionário de suporte dedicado, e a equipe está disponível dia e noite.

Não há equipe médica, já que todos os funcionários recebem treinamento básico em estratégias de recuperação e apoio, bem como são consciencializados sobre temas como o suicídio e primeiros socorros em saúde mental.

A equipe apoia as mulheres para a criação de um programa cotidiano personalizado e com habilidades relacionadas ao autocuidado, autonomia, culinária, administração do tempo, relacionamentos e emprego.

Programas de recovery em grupo são oferecidos várias vezes por semana, juntamente com as atividades diárias.

As mulheres são livres para sair de casa por conta própria, mas devido a limitações de espaço na instituição, as visitas são limitadas.

– Princípios e valores fundamentais da instituição:

  • Respeito pela capacidade legal

Ouvir quem utiliza o serviço da instituição para promover a autodeterminação são elementos essenciais da filosofia da Link House.

Todas as atividades do serviço são orientadas pelos valores fundamentais de respeito e compreensão, realizando ações de acordo com as preferências de cada mulher que utiliza o serviço.

No geral, as usuárias do serviço podem continuar suas vidas, com o Link House em segundo plano como uma rede de segurança.

Assim, as atividades são adaptadas para ajudar as mulheres a articularem seus próprios objetivos; por exemplo, a equipe pode ajudar a usuária a encontrar um advogado para se juntarem a elas durante uma consulta médica, caso haja algum problema judicial acontecendo em sua vida.

Se os usuários do serviço estiverem insatisfeitos com o Link House, a Missing Link tem um procedimento de reclamações para permitir que as usuárias sejam ouvidas e possam fazer críticas ou denúncias, caso necessário.

  • Práticas não-coercitivas

O acesso ao Link House é sempre voluntário. Durante a avaliação inicial, é tomado o cuidado para garantir que a mulher que solicita o serviço esteja genuinamente interessada por conta própria em permanecer na casa.

Embora estimuladas a seguirem uma rotina durante a internação, as usuárias do serviço não são obrigadas a fazê-lo e não há uso de práticas restritivas.

As mulheres que ficam na Link House ficam encarregadas de sua própria medicação; os membros da equipe não estão envolvidos no monitoramento, administração ou diagnosticação de medicamentos.

Se uma pessoa decidir não tomar medicação, isso não terá implicações para sua permanência em Link House, a menos que sua situação de saúde mental se deteriore a ponto de fazer com que ela, ou outras pessoas, se sintam inseguras.

  • Inclusão

Significativamente, a Link House incentiva as mulheres da casa à continuarem com suas atividades regulares na comunidade e busca conectá-las ativamente a diferentes serviços comunitários com base em seus desejos, incluindo outros serviços da rede Missing Link.

Esses serviços incluem uma ampla variedade de outros programas de emprego e de apoio à saúde mental para mulheres, bem como uma variedade de alojamentos apoiados, alojamento em grupo e alojamentos provisórios.

Dentro da Link House, há uma ênfase em fornecer um ambiente inclusivo, as mulheres que usam o serviço são incentivadas a interagirem e a realizarem atividades em conjunto em sessões de grupo organizadas que são realizadas de duas a três vezes por semana.

  • Recovery

Link House usa um modelo de recovery de assistência social, enfatizando uma abordagem baseada nos pontos fortes, nas experiências vividas e pela autodeterminação individual.

Assim, o processo de recovery se concentra na igualdade, sensibilidade cultural e visão holística do grupo para fornecer suporte flexível ajudando as mulheres a se reconectarem com suas vidas.

Todos os funcionários são treinados em práticas reflexivas e abordagens informadas sobre traumas para ajudarem as mulheres a desenvolverem estratégias de enfrentamento que podem ajudá-las no processo.

Os Planos de Ação de Recovery de Bem-Estar Individual são usados para todas as mulheres que passam pelo serviço (88% das usuárias dos serviços consideram isso útil), e a equipe personaliza as atividades em torno dos objetivos de cada indivíduo.

Para apoiar ainda mais as usuárias do serviço, seus prestadores de cuidados atuais também são integrados aos planos, além de incentivarem as mulheres a desenvolverem um gráfico Recovery Star próprio, para identificar as áreas de suas vidas que desejam melhorar. Assim, quando saírem do Link House, elas podem revisitar o gráfico para ver o progresso que fizeram.

Quando as mulheres deixam a Link House, elas são solicitadas a preencherem uma pesquisa de feedback de saída e,  em 2017–2018, a Link House apoiou 150 mulheres e das 122 entrevistadas, 99% disseram que acharam sua estadia uma experiência útil, 99% disseram que o apoio atendeu às suas necessidades, 94% disseram que sentiram que sua saúde mental melhorou, 100% acharam as atividades e sessões de grupo úteis e 100% disseram que recomendariam a um amigo, mostrando o sucesso que a instituição faz na promoção da saúde mental.

Para conhecer um pouco mais sobre ela, acesse o link e assista ao vídeo:

Sara Gray – YouTube

Open Dialogue Crisis Service Lapland, Finland

O serviço de atendimento ao domicílio e crise Open Dialogue está sediado no Hospital Keropudas, na cidade de Tornio, e é coordenado e administrado pelo Ambulatório Keropudas.

Atualmente, atende toda a Lapônia Ocidental e se coordena com outras clínicas e serviços ambulatoriais da região.

O Hospital Keropudas concentra-se exclusivamente no atendimento à saúde mental e oferece internação em todos os municípios da Lapônia Ocidental com uma unidade psiquiátrica de 22 leitos.

A equipe de atendimento a crises do Open Dialogue é composta por 16 enfermeiras, assistente social, psiquiatra, psicóloga, terapeuta ocupacional e secretária.

Médicos estagiários e colegas também participam do trabalho da clínica, que atende uma média de 100 novos indivíduos por mês como parte do serviço público de saúde finlandês.

O serviço de crise na saúde mental visa fornecer uma intervenção baseada em psicoterapia para indivíduos que apresentam um quadro de, incluindo aqueles com sintomas psicóticos, disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.

O serviço constitui o ponto de contacto único para situações de crise na Lapónia Ocidental e visa responder a cada encaminhamento imediatamente, e sempre no prazo de 24 horas, a menos que a pessoa envolvida solicite especificamente um atraso.

Os principais aspectos de valor agregado do serviço são sua flexibilidade, mobilidade e a continuidade do atendimento pela equipe de suporte, trabalhando para minimizar o uso de medicamentos e garantir que as pessoas tenham suas opiniões respeitadas sendo centrais em todas as discussões e decisões sobre seus cuidados.

O Open Dialogue tenta promover o potencial do cliente para a autoexploração, autoexplicação e autodeterminação.

Princípios e valores fundamentais da instituição:

  • Respeito pela capacidade legal

Um princípio central do Diálogo Aberto é que as decisões de tratamento são determinadas pela pessoa que usa o serviço e a equipe de tratamento está totalmente disponível para fornecer o apoio que desejarem.

Ao criar condições para um verdadeiro diálogo, o serviço visa promover a dignidade da pessoa e o respeito pela sua capacidade jurídica.

Os membros da equipe trabalham para criar uma situação em que todas as vozes sejam ouvidas igualmente e os planos de cuidados terapêuticos surjam desse diálogo.

A equipe de crise do Open Dialogue também busca estar atenta aos diferenciais de poder envolvidos em momentos de crise, que podem ter o efeito de minar a oportunidade de quem utiliza o serviço articular suas necessidades e preferências.

O serviço aborda a questão do poder, pensando em como gerir e minimizar os seus desequilíbrios na formação e supervisão dos membros da equipe.

  • Práticas não-coercitivas

O serviço de crise trabalha para evitar intervenções coercivas, procurando diminuir a escalada de situações tensas.

Pessoas que se recusam a tomar medicamentos não são ameaçadas de internação e há negociação para encontrar uma solução segura e agradável para esses casos.

A equipe de serviço é treinada em Gerenciamento de Agressão Real ou Potencial como uma intervenção de descalonamento.

No entanto, apesar dos processos em vigor para evitar práticas coercivas, às vezes as pessoas são admitidas e tratadas contra sua vontade na unidade de internação do Hospital Keropudas quando se trata de garantir a sua própria segurança e nenhuma outra opção surge para o cuidado.

  • Inclusão

O objetivo principal do serviço é dar suporte ao indivíduo em crise para evitar a hospitalização. Como tal, a maior parte do trabalho do serviço de crise é feito na comunidade.

O serviço trabalha em estreita colaboração com escolas, institutos de treinamento e locais de trabalho, bem como com outras organizações que possam fornecer suporte.

As reuniões podem envolver atores de várias partes da rede de apoio do indivíduo e podem incluir família, vizinhos, amigos, professores, assistentes sociais e empregadores, bem como médicos tradicionais, etc.

Os usuários do serviço também podem consultar os praticantes individuais, se desejarem, e acessar atividades físicas semanais, como natação, golfe, etc.

  • Recovery

O modelo do Open Dialogue utiliza elementos da terapia psicodinâmica individual e da terapia familiar sistêmica em uma única intervenção com a pessoa que utiliza o serviço.

Seu foco considera a centralidade dos relacionamentos como fundamento para o estabelecimento de valores, compreensão e consistência para o plano de recovery.

O Open Dialogue busca capacitar a pessoa e a rede de apoio do indivíduo que usa o serviço evitando o uso de linguagem profissional técnica.

Em vez disso, buscam normalizar e desenvolver significado a partir das próprias experiências que o usuário vivência.

Também, incentiva-os a se envolverem ativamente na decisão de como os problemas devem ser discutidos e abordados.

Uma abordagem sistemática é usada para obter feedback diretamente das pessoas que usam o serviço por meio de pesquisas anuais anônimas.

Em um estudo de corte baseado em registro de 2018, os resultados do Diálogo Aberto foram avaliados em uma comparação com um grande grupo de controle em toda a Finlândia.

A duração dos cuidados hospitalares, os subsídios para incapacidades e a necessidade de medicação neuroléptica permaneceram significativamente mais baixos para a abordagem do Open Dialogue.

Os participantes do Open Dialogue foram relatados como tendo melhores resultados de emprego em comparação com aqueles tratados de forma convencional.

Outro estudo de corte nacional, cobrindo cinco anos, descobriu que a área de influência da Lapônia Ocidental tinha os números mais baixos da Finlândia para durações de tratamento hospitalar e pensões por invalidez.

Estudos qualitativos também constataram que as pessoas que utilizaram o serviço foram positivas em relação a ele, assim como as famílias e os profissionais envolvidos.

Sem dúvidas é um dos grandes sucessos da saúde mental atualmente, então vale a pena conhecer mais sobre eles. Portanto, seguem alguns vídeos de recomendação:

http://wildtruth.net/films-english/opendialogue

https://www.youtube.com/watch?v=VQoRGfskKUA

Tupu Ake South Auckland, New Zealand

Tupu Ake foi estabelecido como um serviço residencial piloto de recuperação em 2008 pela ONG Pathways Health, um provedor nacional de serviços de saúde mental baseados na comunidade e um dos primeiros serviços de saúde mental na Nova Zelândia a oferecer uma alternativa ao hospital tradicional.

As pessoas que se hospedam no Tupu Ake são convidadas a estimular um relacionamento menos hierárquico com a equipe.

Tupu Ake trabalha com uma estreita colaboração entre a pessoa que recebe os serviços e seu clínico da equipe para estabelecer um plano de recuperação personalizado que atenda ao propósito de sua estadia na instituição.

A equipe clínica visita frequentemente para revisar o progresso do plano e pode alterá-lo de acordo com exigências do usuário.

A equipe do Tupu Ake ajuda os hóspedes a aprenderem estratégias de enfrentamento, reforça técnicas comportamentais e motivacionais, apoio e auxilio na medicação, além de fornecerem feedback’s e relatórios de progresso para a equipe clínica.

A villa Tupu Ake está imersa em jardins paisagísticos e é inteiramente co-projetada por pares, incluindo pinturas de parede extensas e outras obras de arte criadas por hóspedes anteriores.

Existe uma sala familiar para acomodar reuniões com a família e amigos.

As atividades oferecidas incluem:

  • aulas de bem-estar;
  • intervenções psicossociais;
  • atividades culturais e de bem-estar físico, como: canções culturais (waiata), oração (karakia), tecelagem (harakeke);
  • programas de angústia;
  • terapia artística;
  • jardinagem;
  • alimentação saudável;
  • atenção plena;

Os hóspedes podem criar um Plano de Ação de Recuperação de Bem-Estar (WRAP), uma ferramenta amplamente usada para gerenciar o processo de Recovery.

O Tupu Ake também promove a imersão na natureza como um fator útil na recuperação, por meio de caminhadas, observação de pássaros e horticultura.

Técnicas auto-calmantes baseadas na modulação sensorial, uso de salas sensoriais e desenvolvimento de planos sensoriais também ajudam os hóspedes a tolerar e se recuperar do sofrimento agudo.

O programa do dia-a-dia oferece suporte de transição para ex-hóspedes: até cinco convidados podem participar do programa do dia a qualquer momento, por até sete dias.

As atividades incluem socialização, jardinagem, aprendizagem de instrumentos musicais, arte terapêutica, entre outras.

– Princípios e valores fundamentais da instituição:

  • Respeito pela capacidade legal

Em linha com o valor central da autodeterminação, as pessoas que usam seus serviços são apoiadas a fazerem escolhas informadas e darem o consentimento em todos os aspectos de suas vidas, incluindo: o apoio que recebem de Tupu Ake, sua jornada de recovery, o envolvimento de outros, a busca de sonhos, a realização de objetivos pessoais, sua situação de vida, oportunidades de emprego, atividades sociais e de lazer e relacionamentos.

Assim, toda a abordagem que a instituição utiliza é feita mediante o consentimento da pessoa que utiliza os serviços, sem o uso de quaisquer práticas coercitivas.

  • Práticas não-coercitivas

Os hóspedes são livres para entrarem ou sairem dos serviços como desejarem.

Em situações em que uma pessoa não deseja tomar a medicação prescrita, Tupu Ake interage com a pessoa para procurar entender os motivos de sua relutância, para depois trabalhar com a pessoa para determinar as maneiras de envolver a equipe clínica para resolver o problema.

A equipe tem o objetivo alcançar com isso a autodeterminação individual dos usuários.

  • Inclusão

A equipe reconhece a importância da família (whanau) na vida das pessoas (mais de 40% de seus hóspedes moram com a família).

Muitos hóspedes têm fatores estressantes sociais ou culturais significativos em seus ambientes domésticos e, para adaptar-se a essa situação, Tupu Ake trabalha com outros provedores de serviços sociais e de saúde comunitários para lidar com esses casos.

Ao trabalhar com os hóspedes para planejar sua transição de volta para uma vida independente, o serviço ajuda a conectar as pessoas com os trabalhadores de apoio à saúde mental da comunidade, para garantir que eles possam continuar a lidar com as relações familiares, redes sociais, habitação e outras necessidades vocacionais para quando saírem da instituição.

  • Recovery

A equipe do Tupu Ake auxilia os hóspedes a refletirem e esclarecerem seus objetivos e aspirações de vida, promovendo seu senso de autonomia e controle sobre seu futuro.

Um plano adaptado, focado em pontos fortes para o recovery usa abordagens como WRAP para aumentar a resiliência das pessoas e a capacidade de lidarem com a situação após o retorno à comunidade.

Os membros da equipe veem a pessoa como um todo e oferecem suporte holístico, identificando os fatores que estão causando ou contribuindo para sua angústia.

Como colegas de trabalho, os funcionários compartilham suas próprias experiências vividas de uma forma significativa, usando planos de bem-estar, atividades e outras ferramentas para fortalecem os hóspedes por meio da esperança.

O relacionamento com especialistas em suporte de pares e sua crença na capacidade de um convidado de liderar sua própria recuperação usando seus próprios pontos fortes e habilidades mostra-se transformador para a vida dos usuários desse método.

Uma avaliação independente realizada em 2017 com base em entrevistas qualitativas com os usuários da instituição e outras partes interessadas, incluindo funcionários mostraram que os convidados experimentaram resultados positivos em termos de níveis de autodeterminação e uma maior capacidade para lidarem com suas experiências.

Os hóspedes relataram níveis mais elevados de satisfação com o atendimento em um tempo médio de permanência inferior às outras unidades tradicionais de comparação.

A avaliação destacou o papel positivo que Tupu Ake desempenhou na vida dos usuários para a restauração de suas relações com a família e outras redes sociais.

O número de usuários ao longo do tempo reflete um crescimento constante: durante o período de janeiro de 2015 a dezembro de 2016, 564 hóspedes acessaram o serviço noturno para um episódio de atendimento e 26 utilizaram o programa diurno.

Em comparação, durante o período de 2018–2019, um total de 642 hóspedes pernoitaram e 75 acessaram o programa diurno.

O feedback dos participantes refletiu níveis mais elevados de satisfação com Tupu Ake em comparação com os serviços convencionais e sugeriu que a instituição foi extremamente útil para reduzir as readmissões em serviços agudos.

Dos 303 hóspedes em 2019, 29 (9,5%) acabaram por necessitar de hospitalização e nove pessoas saíram por opção. Os 88% restantes partiram quando seus objetivos para a estadia foram atingidos. Um verdadeiro sucesso!

Para conhecer mais, acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=SwQfaQ3BJVk

Essa foi a nossa cobertura sobre as instituições que promovem boas práticas de atenção à crise em saúde mental. Com qual delas você mais se identificou?

Responda nos comentários para continuarmos o nosso diálogo sobre saúde mental e construirmos, juntos, novos conhecimentos em saúde mental.

– Referência:

Guidance on community mental health services: promoting person-centred and rights-based approaches. Geneva: World Health Organization; 2021 (Guidance and technical packages on community mental health services: promoting person-centred and rights-based approaches). Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.

Relatório OMS.pdf

 

2 Comentários


    1. Muito obrigado, Maria. Fico feliz com o seu retorno 🙂
      Se você gosto desse conteúdo, tenho certeza que você vai gostar ainda mais dos conteúdos das próximas semanas.
      Abraços!!!

      Responder

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