OMS – Serviços de saúde mental focados no apoio de pares

Se você vem acompanhando os post’s das últimas semanas, você já conhece o trabalho que estamos fazendo com o documento da OMS (WHO).

No post de hoje nós vamos trazer 6 (seis) instituições novas para você conhecer as boas práticas em saúde mental que elas promovem para a sociedade. Serão três centros comunitários e mais três instituições de apoios de pares, todas com ótimas práticas para a geração da saúde mental.

Centros comunitários de saúde mental

Os centros comunitários de saúde mental oferecem opções de atendimento e apoio para pessoas com dificuldades psicossociais na comunidade.

Esses centros destinam-se a fornecerem apoio fora do ambiente institucional de saúde, promovendo seus serviços próximo às residências das pessoas.

Esses serviços enfatizam a importância da inclusão social e da participação na vida da comunidade, realizando ações objetivas para atingir esses resultados.

Neste contexto, o apoio dos pares e o apoio no acesso a oportunidades de emprego, educação e atividades sociais e de lazer são características importantes para o atendimento dos centros comunitários.

É importante observar, como já discutimos no post da semana passada, que todos os centros de saúde mental apresentados nesta secção adotam uma abordagem holística e centrada na pessoa com o intuito de cuidar e dar suporte a elas, reduzindo as assimetrias de poder entre a equipe e as pessoas que usam o serviço.

Portanto, segue abaixo as instituições consideradas pela OMS como exemplo para os centros comunitários em saúde mental:

Aung Clinic Yangon, Myanmar

A Aung Clinic recebe clientes independentemente do diagnóstico. A clínica está aberta diariamente para tratamento e oferece serviços de extensão a indivíduos e famílias com acompanhamento por telefone e suporte online, se necessário.

As pessoas são bem-vindas durante o dia, inclusive os sem-teto, para utilizarem os serviços disponibilizados,  mas não há estadia pernoite para os usuários.

Dessa forma, qualquer pessoa pode ir à clínica, desde às que vivenciam uma crise até àquelas que passam por dificuldades momentâneas.

Além de avaliações, a clínica oferece aconselhamento individual, terapia de grupo, treinamento em habilidades vocacionais e grupos de apoio de pares para os usuários dos serviços.

A clínica se concentra em ajudar os usuários dos serviços e suas famílias a compreenderem seus direitos sob a lei estadual e defende os direitos das pessoas com dificuldades de saúde mental e psicossociais, trabalhando em estreita colaboração com escolas, empregadores e organizações locais para garantir aos usuários do serviço participação em todos os aspectos da vida cotidiana.

Por exemplo, a arteterapia é usada na clínica como uma das formas de incentivar a produção criativa e até mesmo profissional dos usuários.

As exposições de arte permitem que os usuários do serviço vendam seus trabalhos. Também há um clube de culinária semanal, apoio para treinamento em alfabetização, matemática, gestão básica de dinheiro e carpintaria que vão no mesmo sentido de promoção criativa e profissional para os indivíduos.

Assim, a clínica colabora com serviços governamentais locais e ONGs em Yangon, incluindo a Associação de Autismo de Mianmar e Future Stars para apoiar os indivíduos e suas famílias.

Dessa forma, o centro comunitário de saúde mental Yangon serve como uma ótima alternativa para evitar hospitalizações e internamentos para as pessoas que vivenciam dificuldades no cuidado da saúde mental.

Um ótimo exemplo para saúde mental que vale a pena conhecer mais:

https://burmese.voanews.com/a/myanmar-mental-health-arts/5487323.html

Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) III Brasilândia, São Paulo, Brasil

Os centros comunitários de saúde mental, conhecidos como Centro de Atenção Psicosocial (CAPS), são a base da rede comunitária de saúde mental no Brasil.

Os CAPS são serviços especializados de média complexidade, bem integrados no nível da atenção básica e apresentam uma subdivisão de vários tipos de CAPS, alguns atendendo principalmente adultos e outros voltados para crianças e adolescentes.

Os serviços do CAPS III atendem tanto a adultos quanto crianças e adolescentes e oferecem atendimento 24 horas por dia em áreas com população superior a 150.000 habitantes.

Esses serviços, existentes em todo o Brasil e atuam como um substituto direto da função tradicionalmente prestada pelos hospitais psiquiátricos.

Como todas as instalações do CAPS III, o centro oferece assistência e apoio contínuo e personalizado de saúde mental com base na comunidade, incluindo serviços de emergência, desenvolvendo ações orientadas por valores com base nos princípios de liberdade e desinstitucionalização.

A integração entre as redes de atenção primária à saúde e saúde mental agrega valor especial ao serviço para usuários, familiares e profissionais.

Um forte foco na comunidade também é parte integrante da abordagem do CAPS III Brasilândia – envolvendo tudo, desde a ligação com negócios comunitários, profissões, estudo e esportes.

O CAPS III foi pensado para criar uma estrutura e ambiente semelhantes aos de uma casa.

Estruturalmente, o centro possui áreas comuns internas e externas para socialização e interação com outras pessoas, refeitório, salas de aconselhamento individual, sala de atividades em grupo, farmácia e dormitórios femininos e masculinos, cada um com quatro leitos, onde se encontram pessoas em crise que podem permanecer por até 14 dias.

O centro também realiza atividades e eventos na comunidade usando espaços públicos como parques, centros comunitários de lazer e museus.

Uma vez cadastrados como usuários do CAPS, os usuários do serviço desenvolvem um plano de atendimento individual (Projeto Terapêutico Singular (PTS)) com seu médico de preferência. O PTS mapeia a história, necessidades, rede social e apoio de uma pessoa.

Eles são apoiados na identificação de suas necessidades e desejos, projetos de vida são discutidos e estratégias de cuidado e apoio com responsabilidades compartilhadas.

O PTS é revisado regularmente pelo profissional de referência e pelos membros da equipe que trabalham de forma mais consistente com o usuário do serviço.

Os membros da equipe apoiam os usuários do serviço de muitas outras maneiras, desde a mediação de conflitos até o acompanhamento deles em certas reuniões ou atividades. Baseados nos princípios orientadores do centro, incluem um grupo de trabalho de arte e cultura; um grupo habitacional vinculado a unidades habitacionais autônomas apoiadas (Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT)); grupo de geração de trabalho e renda; grupo de trabalho de crise; um grupo território-comunidade que identifica e fornece links para serviços comunitários de acolhimento, promovendo iniciativas culturais de inclusão comunitária.

Desde 2002, um total de 12.333 pessoas utilizaram o serviço CAPS III e um estudo de 2009 realizado por Campos et al constatou que os usuários dos serviços e seus familiares apresentam altos níveis de confiança nos serviços do CAPS III, tanto no apoio a crises quanto na reabilitação psicossocial.

Posteriormente, uma avaliação de 2020 do CAPS III constatou que os serviços oferecidos são consistentes com uma abordagem voltada para os direitos humanos e a recuperação, provando a consistência do atendimento ao cuidado à saúde mental ao longo dos anos.

Um instituição que inspira a atuação de inúmeros profissionais do mundo todo. Vale a pena estudar!

Projeto coletivo de geração de trabalho, renda e valor – Ô da Brasa (Work, income and values generation collective project – Ô da Brasa)

https://www.youtube.com/watch?v=5v0jki3GaBw&feature=youtu.be

Phoenix Clubhouse Hong Kong Special Administrative Region (SAR), China

Operando desde 1998, o Phoenix Clubhouse é um membro de longa data do Clubhouse International, que inclui uma rede de 326 Clubhouses em 36 países .

Os Clubhouses têm como objetivo oferecer oportunidades para que pessoas em sofrimento psíquico, trabalhem e aprendam juntas, contribuindo com seus talentos por meio de uma comunidade de apoio mútuo.

Eles ajudam a evitar a hospitalização e possibilitar que os usuários alcancem seus objetivos sociais, financeiros e vocacionais.

Todos os Clubhouses realizam um programa formal de credenciamento e aderem aos Padrões Internacionais para Programas de Clubhouse.

Esses padrões incluem todas as práticas e aspectos de operação de um clube, incluindo associação, estrutura física, localização, funcionamento diário, acesso a educação, financiamento e governança.

O Clubhouse International oferece um programa de treinamento abrangente que oferece uma abordagem consistente para o funcionamento realizado por meio de 12 centros de treinamento autorizados em todo o mundo.

O programa Phoenix Clubhouse é baseado em um “dia de trabalho ordenado”, permitindo que os membros trabalhem junto com a equipe em tarefas essenciais para a operação diária do clube, adquirindo importantes habilidades vocacionais e educacionais.

Seus membros participam de decisões baseadas em consenso sobre todos os aspectos importantes do funcionamento do serviço.

As oportunidades de emprego remunerado no mercado de trabalho local são criadas por meio de um programa estruturado de reabilitação vocacional que inclui um Programa de Emprego de Transição, de meio período, trabalho inicialmente acompanhado de perto por funcionários até alcançarem o estágio de independência.

O serviço também oferece oportunidades de educação apoiadas, organiza programas sociais e recreativos noturnos, incluindo finais de semana e feriados.

Finalmente, o Clubhouse fornece assistência conforme necessário para garantir uma moradia segura, decente e acessível, além de fornecer acesso à programas de educação sobre bem-estar e estilo de vida saudável.

Conheça:

https://clubhouse-intl.org/news-stories/videos/

Serviços de saúde mental no apoio de pares

Os serviços de saúde mental de apoio de pares consistem em sessões individuais ou em grupo de apoio fornecidas por pessoas com experiência vivida a outras que desejam se beneficiar de sua experiência e apoio.

O objetivo desses grupos é fornecer apoio às pessoas que passam por dificuldades já vivenciadas e trabalhadas pelo grupo, de forma a oferecer uma rede de apoio que esteja livre de julgamentos e suposições a respeito das dificuldades vividas.

Parte da premissa de que o sentido do recovery pode ser diferente para cada um e que as pessoas podem se beneficiar enormemente compartilhando experiências, ouvindo e sendo ouvidas.

Assim, estimulando o respeito, o grupo busca apoiar os usuários a encontrarem sentido em suas experiências e, dessa forma, um caminho de recuperação que funcione em suas vidas, permitindo-lhes seguir um caminho pleno e satisfatório de acordo com os parâmetros individuais de cada usuário.

Hearing voices support groups

Os Grupos Ouvidores de Vozes (HVM), começou na Holanda no final dos anos 1980 e hoje já existe um grande número de grupos espalhados por todo o mundo, dos Estados Unidos à Austrália.

Alguns grupos são co-fundados por profissionais intimamente alinhados com os serviços de saúde mental, enquanto outros são iniciados de forma independente por ouvintes com experiências próprias.

Os grupos são organizados em redes locais e nacionais que oferecem suporte, aconselhamento e orientação para novos grupos, sem uma estrutura hierárquica.

Um importante princípio do HVM é que a saúde é considerada como um processo fundamentalmente social, cultural e político, entendendo que ouvir vozes é uma parte normal da experiência humana e, portanto, respeita a diversidade de ideias quanto às origens da audição de vozes, seja de origem biológica, psicológica ou espiritual.

As reuniões de grupo são realizadas em uma variedade de instalações da comunidade, de bibliotecas e centros de artes à ambientes institucionais da saúde mental.

A maioria dos HVGs se reúne semanal ou quinzenalmente como grupos abertos. Alguns grupos organizam apenas discussões informais, enquanto outros convidam palestrantes e organizam evento e atividades de maior complexidade e planejamento.

Junto com discussões informais, as sessões podem incluir exercícios ou planilhas, como o cronograma de Entrevistas de Maastricht.

As vozes também podem ser exploradas por meio de obras de arte, dramatizações ou dramatizações, e diferentes estruturas explicativas e estratégias de enfrentamento podem ser discutidas.

É interessante notar que a organização dos Grupos Ouvidores de Vozes (HVM) é feita mediante ações e atitudes dos próprios usuários dos serviços de saúde mental, que buscam apoio entre os seus semelhantes e constituem uma importante iniciativa para a comunidade.

Assim, o Grupo Ouvidores de Vozes representa não só uma atitude no cenário da saúde mental, como também representa uma importante atitude política e cultural do momento em que vivemos.

Conheça mais:

Beyond Possible, How the Hearing Voices Approach Transforms Lives http://beyondpossiblefilm.info/ Eleanor Longden, The voices in my head, TED2013.

https://www.ted.com/talks/eleanor_longden_the_voices_in_my_head?language=en

Nairobi Mind Empowerment Peer Support Group USP Keny

A USP-K é uma organização que fornece grupos de apoio de pares no Quênia como uma de suas atividades principais, incluindo treinamento em direitos humanos, autodefesa, resposta a crises e meios de subsistência.

Além disso, fornecem informações aos membros sobre benefícios sociais e oportunidades de financiamento e subsídios.

Desde sua criação em 2012, os grupos de apoio de pares da USP-K se expandiram para 13 grupos em seis condados do Quênia.

Os grupos de apoio de pares afiliados à USP-K reúnem indivíduos que se identificam como usuários de serviços de saúde mental, sobreviventes da psiquiatria e da internação.

Os cuidadores também podem ingressar nos grupos, mas pelo menos 70% dos membros de qualquer grupo de apoio de pares devem ter experiência vivida.

Embora a USP-K administre muitos grupos, o Nairobi Mind Empowerment Peer Support Group foi selecionado como um modelo para ilustrar o funcionamento dos grupos da USP-K, especialmente porque tem dados de avaliação de apoio disponíveis.

O grupo de apoio de pares de Nairóbi oferece um espaço para os usuários com experiência de vida se reunirem.

Assim, eles podem trabalhar dentro de uma estrutura de direitos humanos e sociais que promovem a não discriminação, participação e inclusão plena e efetiva.

Dessa forma, afastando as práticas manicomial, os usuários e os profissionais conseguem alcançar o respeito, dignidade, autonomia individual e liberdade.

Para conhecer mais, acesse:

Other: The Role of Peer Support in Exercising Legal Capacity, USP Kenya, (2016): https://www.uspkenya.org/wp-content/uploads/2018/01/Role-of-Peer-Support-in-ExercisingLegal-Capacity.pdf

Peer Support South East Ontario, Canadá

O serviço de apoio de pares fornecido pela instituição consiste em grupos de apoio de pares semanais para pessoas que acabaram de sair por uma hospitalização.

Os colegas trabalhadores atuam como uma ponte de apoio desde o momento da alta de uma pessoa até seu primeiro contato com os serviços de saúde mental na comunidade . Eles fornecem assistência, amizade e apoio por até um ano após a alta.

O mesmo trabalhador de pares visita as unidades de saúde mental um dia por semana para liderar um grupo de apoio de pares para encontrar e interagir com pessoas que recentemente começaram a receber tratamento no hospital.

O trabalhador de pares informa as pessoas recém-admitidas sobre os serviços de apoio de pares oferecidos, fornecendo material informativo, detalhes de contato e um convite para participar do programa e do grupo de apoio de pares semanal.

Durante as reuniões do grupo, que são projetadas para ser um espaço aberto e acolhedor para todos os interessados, o trabalhador de pares apresenta o apoio de pares um a um e os participantes interessados são convidados a agendar uma reunião para iniciar um processo de correspondência com um assistente de apoio individual antes da alta.

Em um estudo de 2019, 92% dos indivíduos que usam os serviços de apoio de pares relataram uma experiência positiva e altos níveis de satisfação com os serviços prestados.

As pessoas relataram sentir-se capacitadas, compreendidas, ouvidas e apoiadas pelo colega de trabalho e consideraram o apoio dos pares como um fator positivo chave em sua jornada de recuperação, enfatizando o poder que a compaixão, conexão e inclusão possuem para a saúde mental da comunidade.

– Videos: https://www.youtube.com/watch?v=q_1qde6kins&feature=emb_title http://www.ledbetterfilms.com/our-videos.html

Esse foi o post da semana e eu espero que você tenha gostado desse novo formato 🙂

Escolhemos sintetizar somente as principais informações de cada instituição para podermos apresentar mais conteúdo.

Deixe nos comentários a sua opinião e a sua sugestão para podermos construir para você o melhor conteúdo sobre saúde mental do Brasil, contamos com você para isso!

Semana que vem estamos de volta com conteúdos novos, então não perca as próximas novidades 🙂

Até mais 😉

– Referência:

Guidance on community mental health services: promoting person-centred and rights-based approaches. Geneva: World Health Organization; 2021 (Guidance and technical packages on community mental health services: promoting person-centred and rights-based approaches). Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.

Relatório OMS.pdf

 

 

 

 

 

 

 

7 Comentários


  1. Maravilhada com tanta informação, estou a cada dia convicta que preciso me aprofundar no conhecimento sobre saúde mental e poder ajudar as pessoas, fazer a diferença e ser a diferença neste mundo.

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  2. Bom dia,! Por favor gostaria de saber como faço para fazer parte do Projeto Pares e se é renumerado? Desde já obrigado!

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