OMS – Serviços de inserção social na comunidade em saúde mental

No post de hoje vamos falar sobre as últimas instituições recomendadas pela OMS no documento normativo Guidance on community mental health services.

Os serviços prestados pelas instituições de hoje se enquadram no fornecimento de acomodação, suporte e subsistência para pessoas que não têm acesso à moradia ou que possuem necessidades complexas de cuidado em saúde mental.

Assim, você verá que as instituições que serão abordadas aqui nesse artigo desempenham um papel significativo para o novo cenário da saúde mental, pois elas reconhecem o papel de suas ações para a inserção social na comunidade de indivíduos vulnerabilizados, trabalhando da melhor forma possível para gerar a garantia de direitos básicos à vida.

Portanto, vamos acompanhar esses exemplos de instituições que trabalham no setor da saúde mental que irão mudar o cenário contemporâneo das relações humanas. Acompanhe!

Serviços de suporte à vida em saúde mental

Os serviços de suporte à vida em saúde mental pretendem refletir e responder aos direitos que as pessoas necessitam para poderem sobreviver física, social e mentalmente na comunidade. Essa série de direitos incluem: moradia, acomodação, alimento, roupa, apoio, entre outros.

Os serviços podem orientar-se de diferentes formas de acordo com cada instituição, algumas trabalham com suporte temporário, outras apoiam a busca e arrendamento para habitação de longo prazo e ainda há àquelas que fornecem moradia comunitária em que várias pessoas vivem juntas como uma família.

Ao longo desse artigo serão apresentadas quatro (4) instituições que trabalham com o suporte à vida de maneira especifica e orientada.

Hand in Hand supported living, Georgia

A instituição pretende promover suporte e cuidado para as pessoas com um longo prazo de dificuldade psicossocial, incluindo àquelas que já sofreram com práticas opressivas de instituições manicomiais.

Assim, a missão da Hand in Hand é criar melhores condições de vida para as pessoas que precisam, mas não possuem o suporte de terceiros.

Dessa forma, acolhendo essas pessoas, a instituição consegue incluí-las e integrá-las novamente na sociabilização.

Através de assistência pessoal e treinamento individual e familiar a instituição promove ótimos resultados para o grupo.

A Hand in Hand pretende oferecer um ambiente caseiro onde as pessoas se sintam confortáveis para seguir com as práticas da casa.

Cada casa admite não mais do que 5 adultos, que podem escolher dormir em quartos individuais ou de casal. Na última década, a instituição expandiu suas alocações de uma para seis casas, totalizando um total de 30 acomodações em suas casas.

As pessoas que desejam participar de uma residência devem completar um formulário escrito delineando o tipo de suporte eles exigido.

Esta avaliação inclui detalhes da personalidade do indivíduo, habilidades de comunicação, necessidades de apoio e compatibilidade geral com outros residentes.

O State Fund for Protection and Assistance of Victims of Human Trafficking (Fundo Estadual de Proteção e Assistência de Vítimas de Tráfico Humano) acaba por decidir quem pode se tornar um residente ou não.

Embora leve em conta as próprias avaliações, aqueles que são priorizados para a aceitação incluem pessoas com deficiência psicossocial que fazem parte da família biológica de outro residente  (por exemplo, uma criança); aqueles que foram criados em famílias adotivas, mas se mudaram aos 18 anos; e aqueles que estão morando em casa, mas não recebem apoio familiar algum.

Ao final do processo, as pessoas devem dar seu consentimento final para indicarem se ainda desejam participar das residências e, depois de ingressas, são livres para saírem quando quiserem.

Os moradores são incentivados a participarem das atividades diárias de sua escolha, a fim de desenvolverem e manterem redes de autonomia e suporte para a inclusão na comunidade da instituição.

Assim, são os próprios moradores que prepararam seus alimentos, cuidam da casa, do jardim, compram os produtos domésticos e participam dos hobbies cotidianos, que incluem diversos eventos culturais.

Cada residente recebe um espaço designado para trancar e armazenar seus pertences individuais e, além disso, eles mesmo criam e revisam seus próprios planos de suporte juntamente com os assistentes.

Uma pesquisa interna informal de cinco residentes descobriu que as pessoas gostavam de sua situação de vida e apreciaram o fato de que eles são responsáveis pelas tomadas de decisão de quais roupas eles usam, quando limpam os seus quartos, quando dormir, quando usar o telefone e decidir quem pode visitá-los e quando eles podem visitar amigos e famíliares.

Além disso, um relatório do governo de 2018 avaliou uma casa em Tbilisi e constatou que o serviços de boas práticas que promovem resultado na recuperação, fornecendo um padrão adequado de vida em um ambiente higiênico e confortável. Também constatou que os indivíduos tinham acesso a uma variedade de serviços na comunidade e participavam constantemente de atividades divertidas e estimulantes.

Crucialmente, eles foram capazes de desenvolver habilidades chave para a independência, incluindo organização pessoal, limpeza, culinária, higiene, utilização de objetos domésticos, independência de deslocamento e uso de dinheiro.

Conheça um pouco mais sobre a instituição:

http://www.handinhand.ge/

https://vimeopro.com/gralfilm/include/video/336759271

 Home Again chennai, India

A Home Again é uma instituição de suporte à vida exclusiva para mulheres com um longo prazo de dificuldade psicossociais, em situação de pobreza e desabrigadas.

Fundada em 2015, a instituição oferece suporte para superar o cuidado institucionalizado com outras pessoas no ambiente caseiro e alcançar a vida independente na sociedade.

 Além de seus programas habitacionais, a Home Again fornece serviços de atendimento de emergência e recuperação para aquelas que precisam de apoio à crises ou cuidados mais agudos, fornecendo a assistência necessária para a saúde psicossocial através de programas comunitários de saúde mental.

Através do aluguel de casa em bairros urbanos, suburbanos e rurais, cada casa recebe de quatro a cinco pessoas para conviverem em um ambiente caseiro que seja perto de outros serviços externos, como lojas, hotspots, centros culturais e centros de saúde.

 A escolha é um fator essencial na determinação do local de permanência das usuárias do serviço, que podem escolher o ambiente de acordo com a região e das colegas que desejam viver e compartilhar o espaço.

Além da habitação, o serviço fornece uma gama de apoios às moradoras para melhorarem sua

saúde psicológica, integração comunitária, qualidade de vida e mobilidade social. Àquelas que usam o serviço são encorajadas a envolverem-se com todos os aspectos da vida, incluindo trabalho, lazer, recreação e uma série de outras oportunidades sociais.

A entrada é oferecida para as pessoas que têm vivido por um ano ou mais em qualquer uma das outras instalações do Banyan (instituição social de parceria com a Home Again) ou em certos hospitais psiquiátricos estatais, e o serviço é restrito a pessoas que estão impossibilitadas de viverem com os membros da família.

A única restrição imposta para a aceitação à instituição são os casos de personalidades com extrema violência no convívio.

Os assistentes pessoais são recrutados em comunidades locais, sendo que até mesmo as ex-residentes podem entrar no programa de assistência.

Depois de admitidos, eles passam por um programa de indução de uma semana a partir de um currículo (co-desenvolvido com a Universidade da Pensilvânia) que delineia estrutura, processo e protocolos para o cuidado adequado.

 Um estudo interno de pessoas que usaram os serviços de Banyan por mais de 12 meses avaliaram as experiências de 53 pessoas que haviam escolhido o lar Home Again em comparação com 60 pessoas que escolheram permanecer nas instalações institucionais do Banyan (considerado como o cuidado usual do município).

As medidas foram coletadas a cada seis meses utilizando diferentes questionários e escalas, ao longo de um período de 18 meses (341) e, o resultado final da pesquisa indicou melhorias significativas para a integração da comunidade para o grupo de pessoas que habitavam a Home Again, comprovando a eficiência do método adotado pela instituição.

Saiba mais!

https://thebanyan.org/

https://www.youtube.com/watch?v=4iX7tSwa2Dc

https://www.youtube.com/watch?v=FOyLSMHJjVg

 KeyRing Living Support Networks

Desde 1990, a KeyRing oferece serviços de vida apoiados para pessoas com condições de saúde mental, dificuldades psicossociais e dependência de drogas e álcool.

Sua missão é inspirar as pessoas a construirem vidas independentes através de suporte flexível, capacitação e redes de conexão.

A KeyRing consiste em mais de 100 redes de apoio em toda a Inglaterra e País de Gales, cada uma com cerca de 10 casas localizadas a uma distância acessível à pedestres uma da outra, para que assim os membros da KeyRing também possam se conectar entre si e envolverem-se mais com a comunidade.

A missão do serviço é conectar as pessoas e inspirá-las a construírem a vida que elas querem.

A habitação é alugada de autoridades locais, associações habitacionais ou até mesmo de propriedade de membros.

As redes são desenvolvidas em torno de acomodações já existentes e disponíveis para que os moradores nem sempre tenham que se mudar para participar do programa e, assim, abandonar laços sociais e comunitários significativos.

Para o convívio, há uma série de voluntários que fornecem um suporte informal para as atividades do dia a dia, como por exemplo: acompanhar os membros para os pontos de educação, emprego e outras atividades sociais voluntárias.

Além disso, há um sede central na qual os membros da KeyRing podem socializar com os outros usuários, voluntários e funcionários da comunidade na instituição.

O treinamento dos funcionários é feito através da Care Academy, que abrange saúde, segurança, trabalho individual e comunitário, salvaguarda e apoio à igualdade e diversidade.

Toda a equipe é treinada para o desenvolvimento de valores da KeyRing, que incluem: desenvolvimento comunitário baseado em ativos, empoderamento, organização da comunidade e independência.

Outro aspecto da KeyRing é a existência de funcionários, voluntários e gerentes de suporte que são responsabilizados por realizarem conexões (network) para facilitar compromissos comunitários e pessoais para cada usuário.

Quando uma nova chegada é aprovada como membro do Keyring, a equipe inicia uma revisão holística para determinar os requisitos de suporte mais imediatos da pessoa e apoiá-la para desenvolver um plano pessoal de recovery.

Desde a primeira avaliação, em 1998, a Keyring tem recebido avaliações consistentemente positivas da qualidade de seus serviços em relação ao custo/efetividade.

Em 2002, uma avaliação independente da Keyring concluiu que a instituição foi “consideravelmente além da maioria das organizações em termos de foco e resultados”.

Em 2006, no departamento do Reino Unido de estudo de saúde analisou os resultados de membros de três redes diferentes, concluindo os serviços da instituição permitiram com que as pessoas que antes tinham altos níveis de necessidades de apoio de trabalhadores de assistência remunerada ou da família puderam desenvolver de forma gradual um estilo de vida mais independente.

O estudo descobriu que a Keyring “ajuda adultos com necessidades de apoio para alcançar mais do que as formas tradicionais de apoio” (356).

Em 2015, uma avaliação de três anos no Keyring com indivíduos em recuperação do uso indevido de substâncias e vício, afirmou: “melhorias notáveis foram evidenciadas em várias áreas da vida dos participantes, incluindo: bem-estar,  retenção de locação, atendimento de ajuda mútua, engajamento em atividade significativa, voluntariado e abstinência contínua”.

Uma outra avaliação de 2018 pela rede de aprendizagem e melhoria da habitação concluiu que a cada ano o a presença da KeyRing levou a: evitar 30%  dos casos de internação psiquiátrica entre os membros, reduzir em 30% os casos de desabrigamento, reduzir em 25% a visita de enfermeiros(as) psiquiátricos ou coordenadores sociais, reduzir em 20%  a reincidência do consumo de drogas/substâncias ilícitas entre os membros.

Uma instituição que já veio provando seus resultados diversas vezes ao longo dos anos, vale a pena conhecer mais:

http://www.keyring.org/

https://vimeo.com/379267912

 Shared Lives south east Wales, United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland

A Shared Lives fornece suporte e acomodação baseados na comunidade para adultos necessitados, incluindo pessoas com condições de saúde mental e dificuldades psicossociais.

A Shared Lives é uma alternativa para casas de cuidados, cuidados domiciliares, creches e também fornece cuidados transitórios para jovens depois de terem estado em hospitais ou o sistemas de adoção.

 Hoje, quase 1000 pessoas são apoiadas pelo Shared Lives no País de Gales, e mais de 12.000 pessoas em todo o Reino Unido.

A instituição fornece às pessoas apoio em um ambiente comunitário em um lugar no qual elas se sintam em casa, incluindo acomodação, suporte diurno e suporte de curto prazo após alta hospitalar.

Uma vez que o arranjo do serviço começa, o indivíduo, um trabalhador da Shared Lives e a equipe de atendimento à crise cooproduzirem um plano pessoal para o usuário.

O plano pessoal estabelece as ações necessárias para atender ao indivíduo, fornecendo bem-estar, cuidados e apoio para que o indivíduo alcance suas metas e resultados pessoais estabelecidos.

A estratégia de Gales, por exemplo, para a saúde mental adota uma abordagem baseada em direitos, recovery, empoderamento, envolvimento e participação do serviço e das atividades para os usuários em um nível individual, operacional e estratégico com o intuito de proporcionar uma vida familiar comum, onde todos podem contribuir, ter relações significativas e serem capazes de participarem como cidadãos ativos e valorizados.

Na Inglaterra, a comissão de qualidade assistencial, que regula todos os esquemas da Shared Lifes, tem consistentemente a classificação dos serviços como a forma de cuidado mais segura e de alta qualidade.

Em 2019, o atendimento foi classificado 96% das vezes como “Bom” ou “Excelente” em todo o Reino Unido, incluindo o regime do Sudeste de Gales.

Saiba mais!

https://www.caerphilly.gov.uk/sharedlives

https://abuhb.nhs.wales/about-us/public-engagement-consultation/transforming-adult-mental-health-services-in-gwent/

https://www.youtube.com/watch?v=8F55lboVbhg%20

https://www.youtube.com/watch?v=XTVmkn5NYRM&t=1s%20

https://youtu.be/auWBkPqUFz4%20

 Essas foram as últimas instituições recomendas pela OMS como exemplo para os serviços de saúde mental da atualidade. Espero que você tenha gostado do que apresentamos até aqui 🙂

Mas não se preocupe, agora vamos entrar em uma nova etapa na análise do documento normativo Guidance on community mental health services. Então, não perca as atualizações das próximas semanas, porque ainda vai vir muito conteúdo pela frente.

 

 

 

2 Comentários


  1. Olá!
    Gratidão 🙏 pela vossa generosidade de partilha!
    O documento está muito completo, muito bem estruturado, será com toda a certeza uma grande valia!
    Parabéns pelo trabalho que desenvolvem!

    Responder

  2. Grata pelas vossas partilhas, quanta generosidade!
    Foi uma grande satisfação, perceber através do documento partilhado, que existem instituições que desenvolvem um trabalho excelente, só é lamentável que a necessidade de respostas ao nível da Saúde Mental seja, ainda, muito insuficiente.
    O caminho é este, efetivamente, é necessário continuar a caminhada, todos juntos!
    Um abraço;
    Margarida Araújo

    Responder

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