Como usar a música como ferramenta terapêutica em saúde mental

Introdução

 Podemos dizer que “Música” é a arte de harmonizar, de maneira rítmica, diferentes sons com o silêncio. Assim, o intervalo de cada sequência de notas cria um movimento musical que desperta sensações físicas, psicológicas e emotivas nos seres humanos.

O som, para a Física, é a propagação de uma onda. Porém, os sons, para os seres humano, são percepções. Porque, através dos sons, conseguimos criar diferentes sentidos e significados para narrar as nossas emoções.

Os sons vêm da natureza da vida, mas a música vem da natureza humana. A música, então, surge como uma forma de expressão e comunicação.

É uma ação que temos sobre mundo e, através dela, conseguimos organizar, significar e orientar símbolos, sendo decisiva para o processo de subjetivação dos seres humanos.

Dessa forma, a música é uma das mais antigas formas de expressão que temos, mais antiga até mesmo que a capacidade linguística.

Assim, fazemos o uso da música há milhares de anos para cuidar do nosso desenvolvimento mental.

Hoje, ela representa muitas coisas: entretenimento, profissão, estilo de vida, cultura…

Mas, o mais importante é saber que ela significa, também, saúde.

Enquanto profissão e disciplina, a musicoterapia tem procurado aprofundar os estudos científicos a respeito do papel da música no cuidado à saúde mental.

Como estratégia de promoção da saúde mental, a Musicoterapia busca auxiliar as pessoas a descobrirem sua subjetividade, devolvendo-lhes o poder de decisão sobre suas próprias vidas.

Atualmente, existem no Brasil musicoterapeutas trabalhando em diferentes espaços e contextos da rede de atenção à saúde mental, de hospitais psiquiátricos à CAPS.

A fim de assegurar a universalidade e equidade nos cuidados em saúde mental, a IV Conferência Nacional de Saúde Mental- Intersetorial (IVCNSM-I) determinou a criação de “estratégias para modificar o uso contínuo e indiscriminado de medicamentos, fortalecendo os espaços de escuta e expressão no território, utilizando: terapia comunitária, rodas de conversa, oficinas terapêuticas e atividades artísticas (plásticas, musical, cênicas) para o cuidado da saúde mental” (BRASIL, 2010, p. 68).

Assim, frente ao conceito ampliado de saúde, promulgado pela Política Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL, 2006),  a Musicoterapia ocupa um espaço importante como agente promotora de saúde.

A Musicoterapia é fundamental para que o sistema de saúde tenha intersetorialidade em suas políticas públicas.

A Musicoterapia reconhece os recursos de auto-organização na comunidade e defende o rompimento do velho paradigma de “medicalizar” os problemas individuais e sociais, propondo um cuidado alternativo à saúde mental.

A música e a Saúde Mental

 A música como ferramenta terapêutica em saúde mental foi implementada na unidade de internação feminina II  para pacientes internados no Hospital Universitário Walter Cantídio (UFC), através do grupo Musicoterapia Som Saúde.

Foram selecionadas 10 usuárias com idades a partir de 13 anos que concordaram em participar, voluntariamente, do estudo.

Os métodos escolhidos foram: narrativas, diários de campo e entrevistas semiestruturadas, durante o período de Outubro de 2011 a Fevereiro de 2012.

Os resultados foram: acolhimento e conexão entre as usuárias, diálogo e resiliência em lidar com emoções como raiva, tristeza ou alegria.

Foi constatada, através das narrativas, redução de dores emocionais (expressas de modo somatizado), como também de quadros de agitação, agressividade e melhoria no relacionamento interpessoal durante as atividades, não se restringindo seus benefícios apenas ao tempo das vivências com musicalização, mas inclusive nos momentos posteriores.

Assim, enquanto intervenção de baixo custo, não invasiva e não medicamentosa, a vivência da musicoterapia Som Saúde dentro do Hospital Walter Cantídio conseguiu promover a saúde mental das usuárias reduzindo o estresse de forma dinâmica, divertida e terapêutica.

Dessa forma,  utilizar a música para promover saúde pode favorecer a adesão ao tratamento, reduzir o tempo de internação e, assim, diminuir o custo para o sistema de saúde.

Além disso, a música pode promover a introdução ou reintrodução do convívio social de uma pessoal que vivência um transtorno mental.

Outro aspecto igualmente importante é considerar que a musicoterapia, enquanto atividade profissional, estimula o potencial criativo e a capacidade comunicativa, mobilizando aspectos biológicos, psicológicos e culturais (MILLECCO FILHO; BRANDÃO; MILLECCO, 2001).

Assim, através de técnicas profissionais, a Musicoterapia pretende facilitar o enfrentamento do sofrimento psíquico para promover a saúde mental, objetivando o cuidado terapêutico e humanizado.

A musicoterapia surge como uma estratégia que pode ser promotora de qualidade de vida aos sujeitos que se encontram internados.

É um recurso terapêutico que visa, conforme Bergold, Alvim e Cabral (2006: 268), Forinash e Gonzalez (1989: 35-46) e Ferreira, Remedi e Lima (2006: 689-693), atuar como uma estratégia facilitadora de cuidado, relaxamento, criatividade, espontaneidade, ludicidade, melhoria da qualidade do sono, diminuição da dor física e emocional, geração de sentidos e de qualidade de vida.

“A contribuição da musicoterapia nos diferentes contextos hospitalares (internação, hospital-dia e serviço ambulatorial) tem sido reconhecida por minimizar os efeitos da hospitalização, entre outros, influenciando diretamente na qualidade de vida do paciente. Por qualidade de vida, entende-se o viver que é bom e compensador em pelo menos quatro áreas: social, afetiva, profissional e saúde. (ZANINI et al., 2009)”

A música como ferramenta terapêutica

 Dessa forma, vemos que utilizar a música como ferramenta terapêutica é fundamental para a promoção da saúde mental.

Para isso, os(as) profissionais que trabalham com ela podem utilizar a música de diversas maneiras para alcançar os benefícios que descrevemos acima.

Para utilizá-la, deve haver a livre adesão do usuário(a) ao instrumento e a sua prática deve restringir-se somente durante o período de atenção dos usuários(as).

Quando existir muita agitação e inquietude e a atividade já não estiver mais interessando ao grupo, é necessário o termino da atividade para que permaneça apenas a sensação agradável e o desejo de vivenciar novamente a atividade em outro momento.

Além disso, é importante considerar a música como uma ferramenta terapêutica abrangente e inclusiva, não excluindo nenhum usuário(a) por base de diagnósticos.

Ela pode ser utilizada tanto para os indivíduos conectarem-se consigo mesmos, quanto para conectarem-se com os colegas.

Para isso, em um primeiro momento, o(a) profissional pode apresentar algumas canções para serem ouvidas e trabalhadas coletivamente.

A seguir, o(a) profissional pode sugerir temas para os(as) usuários(as) criarem canções próprias para, posteriormente, incentivá-los(as) a buscarem por temas e expressões próprias.

Os usuários dos grupos podem acompanhar as atividades tocando diversos instrumentos à disposição escolhidos por eles (violão, tambor, atabaque, flauta, bongô, triângulo, berimbau, etc.), entoando canções sugeridas pelos mesmos.

A escolha das músicas pelos usuários é respeitada para que haja uma conexão entre o ouvinte e a música, promotora de relaxamento e bem-estar.

Para as atividades individuais, o uso de narrativas pode orientar a verbalização de sentimentos, medos, traumas, inseguranças e potencialidades através da musicalidade poética.

Além disso, o(a) profissional pode utilizar a música para promover a comunicação entre o grupo.

Para isso, podem incentivar apresentações coletivas e individuais para mostrar o trabalho musical de cada usuário(a), promovendo a motivação, interação e cooperação entre o grupo.

Por fim, o(a) profissional pode orientar o(a) usuário(a) a utilizar a música no ambiente familiar para promover a saúde da relação entre os familiares.

Conclusão

 Assim, Ferreira, Remedi e Lima (2006) afirmam: a música, no espaço estressante da hospitalização, além de valoroso de ser um instrumento lúdico de distração da dor, contribui para uma melhor aceitação ao tratamento e, consequentemente, uma melhoria da qualidade de vida neste período de estadia.

Enquanto intervenção de baixo custo, não invasiva e não medicamentosa, a utilização da música como recurso promotor de saúde apresenta um grande potencial de implementação de um cuidado alternativo ao modelo hospitalizar e manicomial.

A musicoterapia tem como propósito maior a compreensão a respeito do sujeito em sofrimento psiquico e o modo singular de enfrentar esta realidade, favorecendo o resgate de sentido pessoal e, consequentemente, a reintrodução ao convívio social.

A vivência da musicoterapia nada mais é do que pôr em prática de forma dinâmica, divertida e terapêutica, discussões diversas sobre melhores práticas com os usuários manifestando-se de forma satisfatória e fundamental ao usuário, no sentido de subsidiar e redirecionar políticas públicas em saúde mental.

Portanto, implementar a Musicoterapia no sistema de saúde é fundamental para alcançarmos interseccionalidade e abrangência no setor.

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A Musicoterapia enquanto profissão e as áreas de atuação do musicoterapeuta

O curso de musicoterapia tem como um de seus princípios fundamentais a interdisciplinaridade. A formação do musicoterapeuta está baseada em três grandes áreas de estudo que dão base a essa lógica: a musical, a científica e a da sensibilidade.

A área musical busca o desenvolver das habilidades musicais do profissional terapeuta em relação ao seu fazer musical, dando ênfase igualmente aos conhecimentos teóricos e históricos da pessoa sobre música e seus elementos.

A área científica diz respeito ao estudo biológico, psicológico e social do ser humano, de forma a entender suas reações a música, seus comportamentos internos e externos, assim como as dificuldades e patologias do corpo e da mente humana.

Referências

 – Yzy Maria Rabelo Câmara1 Maria dos Remédios Moura Campos2 Yls Rabelo Câmara3 – MUSICOTERAPIA COMO RECURSO TERAPÊUTICO PARA A SAÚDE MENTAL-  Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, ISSN 1984-2147, Florianópolis, v.5, n.12, p.94 -117, 2013

–  Maria da Conceição de Matos Peixoto¹ Célia Mª Ferreira da Silva Teixeira² – MUSICOTERAPIA COMUNITÁRIA – CONTRIBUIÇÃO PARA A SAÚDE MENTAL DA COMUNIDADE Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, ISSN 1984-2147, Florianópolis, v.5, n.11, p.102-113, 2013

– BRASIL, Ministério da Saúde. Relatório Final da IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial. Brasília, DF,2010. Disponível em < http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/2011_2_1relatorio_IV.pdf> Acesso em 28.jun.2012.

– Política Nacional de Promoção da Saúde, Ministério da Saúde, Brasília, DF, 2006. Disponível em Acesso em 05.jan.2011.

– BERGOLD, L. B; ALVIM, N. A. T; CABRAL, I. E. O lugar da música no espaço do cuidado terapêutico: sensibilizando enfermeiros com a dinâmica musical. Texto Contexto Enferm., vol.15, n. 2, abr-jun, 2006.

– FERREIRA, C.C. M; REMEDI, P.P; LIMA, R.A.G. A música como cuidado à criança hospitalizada: uma possível intervenção? Rev. Bras. de Enferm., vol. 5, set-out, 2006.

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