Como se sabe, a transição da vida adolescente para a vida adulta pode representar mudanças extremamente difíceis e repletas de enfrentamentos psicológicos e sociais no que concerne a realidade de um jovem.
A saída da casa dos pais ou dos ambientes seguros de outrora, o aumento das expectativas diante da nova realidade frente à universidade, o rompimento de relacionamentos antigos e o próprio processo de autoconhecimento e descoberta.
Todos esses acontecimentos muitas vezes levam estes jovens a entrarem em estados de angústia, medo e intensa ansiedade, aos quais eles dificilmente estariam preparados.
Uma das consequências dessas mudanças, aliada a uma possível falta de apoio na vida desses indivíduos, é o desenvolvimento de condições psicológicas críticas, que em casos extremos, acabam levando á depressão nas universidades, e até mesmo, ao suicídio.
Apesar das ótimas oportunidades que o contexto universitário oferece, para muitos jovens este acaba se tornando um ambiente de sofrimento.
A depressão intensifica tudo isso; pode ser sua consequência; e é exatamente por isso que hoje falaremos sobre esse tema tão denso e importante.
A entrada na vida universitária, a falta de apoio e a pressão psicológica
Na medida em que o estudante adentra no mundo universitário e se encontra diante de responsabilidades e cobranças nunca vivenciadas anteriormente, é gerada uma nova expectativa frente a essa realidade.
Isso acontece, normalmente nas universidades públicas, porque, comumente, os estudantes acabam vindo de cidades distantes, algo que representa um distanciamento de seus ambientes familiares, antes, provedores de todo o suporte necessário para o andamento equilibrado de suas vidas.
Uma vez sozinhos, entrando em contato com o desconhecido e convivendo com pessoas distintas, as dificuldades se acentuam e a necessidade de auxilio tendencialmente aumenta.
Um grande problema dessa situação é a falta de conteúdo disponível sobre o assunto, da mesma maneira como acontece com espaços para discussões.
Os indivíduos, nessas circunstâncias, não encontram apoio para socializar e dividir sua condição, algo que implica no aprofundamento de seus estados de solidão e sofrimento.
Ainda hoje, mesmo com os elevados indicativos de depressão nas universidades e ansiedade frente à vida universitária, o preconceito e a dificuldade em mencionar o assunto são enormes.
A falta de compreensão e, principalmente, de atenção com a qual essas pessoas lidam, traz problemas afetivos e relacionamentos insatisfatórios para com os outros, coisas que com o tempo podem ter implicações muito mais drásticas na vida desses indivíduos.
Um exemplo disso é o caso da especialista em psicologia e também integrante da instituição Intervoice, Eleonor Longden, que ao expor sua condição como ouvidora de vozes durante a faculdade, sofreu duras consequências.
Fizeram parte de sua vida nesse período o bullying e a forte retaliação social por parte daqueles que considerava seus colegas; algo que intensificou enormemente todo o seu sofrimento.
Neste estado, sua autoimagem já está entrelaçada com a própria insegurança e, por conta disso, a dificuldade de se encontrar uma solução se intensifica.
Seria necessário que a universidade dispusesse de um maior apoio para os estudantes que ingressam todos os anos em suas vagas, de maneira a melhor distribuir esse tipo de conteúdo, da mesma forma que atendimentos psicológicos e espaços reservados para conversação e socialização.
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A partir do momento em que se inicia a rotina e as responsabilidades acadêmicas, é recorrente que a pressão psicológica se torne crescente, de forma que o comprometimento com a faculdade caia e acabe por afetar também o comportamento psicossocial do indivíduo, como em um efeito dominó.
Com o passar dos anos, as universidades vem melhor se estruturando para dar apoio psicológico aos alunos, porém, ainda não se faz de todo suficiente para o combate e a decorrente diminuição das altas taxas de transtornos e de dificuldades mentais entre seus estudantes.
A depressão e o suicídio entre os jovens universitários
A depressão nas universidades não é um problema de saúde mental exclusivo das instituições de ensino superior brasileiras, como apontam algumas estatísticas de estudos realizados por especialistas ao redor do mundo:
Um estudo recente realizado na Bélgica (Levecque, 2017), apresenta que cerca de metade dos estudantes de doutorado sofre de algum transtorno psicológico durante a pós-graduação, ainda que 1/3 deles se encontre em risco de desenvolver distúrbios psicológicos mais graves, como a depressão.
Na Universidade da California (Berkeley, 2014), foi apontado que dos 785 pós-graduandos entrevistados, 47% dos doutorandos e 37% dos mestrandos poderiam ser classificados como depressivos.
No Reino Unido, segundo Kinman (2010) distúrbios mentais atingem 53% dos acadêmicos.
Enquanto na Austrália (Winefield, 2003), a taxa destes mesmos distúrbios foi considerada de 3 a 4 vezes maior na Academia do que na população em geral.
Quando se trata de suicídios, as taxas são mais altas em países mais desenvolvidos, porém, se espalham atingindo estudantes do mundo inteiro.
No Brasil, no que se refere aos jovens na faixa etária dos 20 aos 24 anos, o suicídio dessa população alcançou a taxa de 6,1 para cada 100.000 habitantes em 2010, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Em 2000, essa taxa era de 5,3.
Em 2014, foram 2.898 suicídios de jovens de 15 a 29 anos – faixa etária que compreende a fase universitária.
Isso mostra um aumento extremamente preocupante, posto que é justamente nessa faixa etária que esses jovens estão adentrando no mercado de trabalho e ingressando nas universidades.
Em 2017, dentre as grandes universidades brasileiras, foram noticiados 2 suicídios e uma tentativa nas duas primeiras semanas do primeiro semestre letivo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Além de ao menos 6 tentativas de suicídio no curso de medicina da Universidade de São Paulo (USP) e outros atos consumados na Faculdade de Veterinária e no Instituto de Ciências Biológicas da mesma instituição.
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Estes dados mostram a frequência e a proximidade destes casos tanto no contexto internacional, como no contexto nacional.
Desta forma, fica em destaque a necessidade de se trabalhar sobre o tema, principalmente dentro das universidades, tendo em vista a alta taxa de mortalidade nestes ambientes.
Como as universidades lidam com o sofrimento e as questões de saúde mental de seus alunos
Com o passar dos anos e o recorrente aumento das estatísticas negativas no que diz respeito à saúde mental dos alunos, as universidades vem tentando mudar a maneira como lidam com essas questões, de forma a instituir programas, ambientes de diálogo e de difusão de conteúdo sobre o assunto, objetivando melhorar como plataformas de suporte.
Apesar do movimento, é necessário destacar que, a princípio, foi a pressão estudantil em muitas dessas universidades, especialmente nas públicas, que deu início as mudanças.
Um grande exemplo é o movimento #NãoÉNormal, criado e composto inicialmente por estudantes de graduação, que se espalhou nas redes sociais e em diversas universidades brasileiras no ano de 2017.
O movimento digital incentiva os estudantes a compartilharem relatos de suas experiências e a buscarem apoio entre si, além de pressionarem as instituições por políticas de saúde mental mais eficazes.
Outro exemplo desse esforço estudantil é a Frente Universitária de Saúde Mental, organizada em abril de 2017, por alunos de diversos cursos da USP, com o mesmo objetivo de lutar e difundir o conhecimento de maneira ampla sobre assuntos que giram em torno do tema, dentro da universidade.
A Frente sugere uma mudança curricular que tenha em suas diretrizes a saúde mental do aluno.
E em setembro do mesmo ano ela também organizou a Semana de Saúde Mental na universidade, visando debater a condição psicológica dos alunos dentro de tal ambiente.
Na Universidade da Paraíba (UFPB), a iniciativa Equilíbrio UFPB tem sido um provedor de ajuda para os universitários, organizando a realização de encontros periódicos entre seus alunos, com o intuito de que possam discutir sobre temas que geram pressão e estresse na graduação e pós-graduação, fazendo disso uma importante rede de apoio para si mesmos.
Seguindo a mesma linha, na Faculdade Medicina da Unesp, uma estratégia implementada foi a indicação de um professor mentor para os estudantes que tiverem mudanças repentinas no rendimento acadêmico, como uma forma de suporte ao aluno que pode estar enfrentando dificuldades nesse momento conturbado da vida.
Os exemplos aparecem a cada dia, em um movimento conjunto contra as consequências de toda essa pressão constante presente na vida do jovem universitário.
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Os sintomas da depressão nas universidades, a angústia e o medo atingem essas pessoas e, em parte dos casos, tem desfechos graves.
Esses são problemas recorrentes da saúde mental e, assim como em instituições de ensino superior ao redor do mundo, precisam ser trabalhados e estudados pelas universidades brasileiras como mais uma ferramenta de apoio aos seus estudantes.
O ambiente universitário, o medo do fracasso e a saúde mental: Qual pode ser a melhor forma de lidar com tudo isso?
Quase todo jovem aluno do ensino médio, que se prepara para realizar o vestibular, sonha com a sua entrada na universidade.
Seja numa USP, numa Unicamp ou em qualquer outra das boas universidades que se tem no Brasil, esse se torna, normalmente, o seu primeiro grande objetivo.
No entanto, algo que esses jovens nem sempre sabem é que, criada essa expectativa grandiosa em torno disso, nem sempre o ambiente universitário acaba respondendo de volta e com a mesma proporção.
Apesar das muitas coisas boas que a universidade oferece, o apoio que existe nesses lugares no que diz respeito ao desenvolvimento e acompanhamento do aluno, entendido que esse é um período de intensas mudanças, falhas e descobrimentos, na maioria das vezes é muito pouco ou nulo.
A insegurança dos alunos parece encontrar um lugar oportuno para crescer nesse meio.
O não alcançar das expectativas abre portas para o medo de fracassar diante de uma série de pressões cotidianas contidas ali, de maneira que o erro parece se tornar uma consequência da falta de capacidade ou até mesmo de esforço do próprio jovem.
Mas diante disso, a grande verdade é que essa não tem que ser a realidade do aluno que entrou cheio de perspectivas no lugar para o qual batalhou e sonhou tanto entrar.
Os movimentos universitários, que congregam milhares de estudantes em função da busca por maiores cuidados e uma melhor saúde dentro das universidades, são a maior prova disso.
Cuidar da saúde física e mental evidenciou-se como algo extremamente importante.
Para além de saber dosar a carga de cobrança que se coloca sobre si mesmo, buscar a felicidade verdadeira caminhando pelos belos rumos que a universidade e os estudos têm a oferecer é fundamental.
Se aprimorar em algo, participar de atividades extracurriculares, sair com os amigos e viver suas experiências, se retirando dos ambientes mais solitários, na medida em que a universidade ajuda essas pessoas com a realização saudável de tudo isso.
Mesmo que para praticar um esporte, fazer exercícios ou ler um livro em um lugar mais calmo, pode ser o caminho para diversas boas mudanças, cuidando da juventude e de seu futuro, da maneira como sempre deveria acontecer.
