Arteterapia na Saúde Mental

Arteterapia na Saúde Mental: “Nise da Silveira e os Inúmeros Desenhos do Ser”

Dedico a todos os Van Gogh´s, Camile´s Claudel, Violeta´s Parra, Albertina´s, Jorge´s, Isabel´s, Maura´s…,que me permitiram entrar em seus mundos e seus inumeráveis estados do ser…

Quando fui convidada a participar deste blog, muito honrada fiquei e pensei nas inúmeras possibilidades de falar da psiquiatra brasileira Nise da Silveira e a possibilidade do desenho, da imagem neste contexto.

Mas antes irei contextualizar parte de sua vida e obra para entendimento de sua ativa luta contra os maus tratos e métodos nada humanizados na época e uma breve reflexão no uso da arte como forma de expressão dos sentimentos conscientes e inconscientes.

Este texto teve seu direcionamento o catálogo produzido por Nise da Silveira, da exposição “Os inumeráveis estados do ser”, no Rio de Janeiro, em 1987 e o que permeou a construção desta exposição e olhares para uma nova forma de cuidado e tratamento ao ser humano.

Contextualizando vida e obra de Nise da Silveira

Nise Magalhães da Silveira, nascida em Maceió/AL, em 15 de fevereiro de 1905, ingressa na Faculdade de Medicina da Bahia, formando neste curso
em 1926, numa turma de 157 homens e somente ela como a única mulher, sendo também uma das primeiras médicas do Brasil.

Em 1927, após a morte do pai, vai para o Rio de Janeiro com seu primo Mário Magalhães Silveira, neste mesmo ano foram morar juntos a contragosto da família por não aceitarem casamentos entre primos. Não tiveram filhos, mas muitos gatos, livros e companheirismo (MELLO, 2014).

Motivada em ir para o Rio de Janeiro para especializar-se em neurologia, fez residência na área e, em 1933, passou em um concurso e foi designada para médica psiquiatra na Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental. Em 1936 trabalhando e morando no Hospital da Praia Vermelha, no governo de Getúlio Vargas, foi presa por denúncia de uma enfermeira por ter visto um livro de Karl Marx em sua mesa sendo acusada de comunista.

Por isso, foi demitida do cargo público ficando 15 meses presa no presídio Frei Caneca/RJ, na qual conheceu Graciliano Ramos, Olga Benário e Rachel de Queiróz (MELLO, 2014). Neste período, Nise pode perceber o quanto a privação de liberdade poderia levar a pessoa à loucura, aos quartos sombrios do mundo interno, e, nesta experiência da prisão a ajudou entender mais tarde o que se passava no mundo interno dos esquizofrênicos.

Ainda sobre essa experiência, no livro de Luiz Carlos Mello (2014), um de seus maiores assistentes e, hoje, curador de sua biblioteca e diretor do Museus Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, a partir das anotações pessoais dele pelo convívio com a psiquiatra, conta uma fala dela: “Acho que todo psicanalista deveria fazer um estágio de um ano na prisão, pois nada como o encarceramento para mostrar a alma humana.” (MELLO, 2014, p. 81).

Seus estudos da psiquê humana tiveram primeiramente Sigmund Freud e outros autores com o tempo como o filósofo Spinoza, Machado de Assis, Antonin Artaud (deste vamos dar direção a este capítulo), Kraepelin, Bleuler, H. Simon, K. Schneider, P. Sivadon e Carl Gustav Jung (HORTA, 2009; QUATERNIO, 2001).

Além de sempre buscar autores para compreender e entender embasando seus estudos e casos atendidos, o trabalho de Nise com os esquizofrênicos iniciou novamente após a sua entrada, readmitida em 1944, no antigo Centro Psiquiátrico Nacional (depois denominado Centro Psiquiátrico Pedro II e, desde 2006, Instituto Municipal Nise da Silveira), no Engenho de Dentro/RJ.

Antigo Centro Psiquiátrico Pedro I, que foi desativado e reestruturado, se tornando o Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira, no bairro de Engenho de Dentro, Rio de Janeiro.. Foto: Reprodução

Durante os anos afastada da psiquiatria novos medicamentos e tratamentos foram surgindo, entre eles, o eletrochoque e a lobotomia, criada
pelo português Egas Moniz, em 19362, (SILVEIRA, 1992; MELLO, 2014).

Nise começou com trabalhos de rotina na enfermaria, teve contato com esses novos tratamentos e, um reconhecido médico, adepto às inovações na psiquiatria, a chamou para aprender essas técnicas.

A primeira demonstração foi com o eletrochoque que, já na carga inicial, o paciente entrou em convulsão e o médico pediu que trouxessem outro para que ela também praticasse. Na hora da aplicação, diante do que tinha visto anteriormente, ela disse não. (MELLO, 2014). “E aí começou a rebelde.” Por achar as técnicas da tradicional psiquiatria existente no hospital “repressoras, excludentes, medicamentosas e mutiladoras” (QUATERNIO, 2001, p.4) ela é remanejada para a Seção de Terapêutica Ocupacional (STO). Era um setor, onde os pacientes internados tinham a ocupação de serviços braçais e de limpeza, com um pagamento previsto para gratificá-los. (SILVEIRA, 1979).

Numa arquitetura de corredores e enfermarias nos espaços deste setor (como se fossem para um hospital de cirurgia), Nise procura o também psiquiatra do hospital, Dr. Fábio Sodré e tomam a iniciativa de transformar esses espaços numa pequena sala de estar.

Ali ela começa algumas atividades inspirada nas experiências ocupacionais que teve na prisão percebendo o quanto isso contribuiu para essa nova visão de uma terapêutica ocupacional, pois, na prisão e, todo preso, segundo Nise citado por Luiz Carlos Mello em seu livro, “procura uma atividade, senão sucumbe mentalmente” (MELLO, p. 91, 2014).

Diante disso, Nise institui a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (STOR) com atividades profissionalizantes, expressivas, recreativas e culturais. (SILVEIRA, 1979).

Dessa experiência terapêutica, juntamente com a sugestão do amigo artista plástico e, também funcionário do hospital, Almir Mavignier, inauguraram o atelier de pintura, e, ambos perceberam “a oportunidade para que as imagens do inconsciente e seus concomitantes motores encontrassem formas de
expressão.” (SILVEIRA, 2015, p. 15).

E seu trabalho foi ganhando forma principalmente, após conhecer a Psicologia Analítica, de Carl Gustav Jung. Ela cita em seus estudos que antes dessas oficinas, os pacientes estavam desagregados, jogados ao setor e, após o frequentar com suas práticas expressivas “[…] manifestavam intensa exaltação da criatividade imaginária, que resultava na produção de pinturas em números incrivelmente abundante […]” (SILVEIRA, 2015, p. 15). Aprofundarei mais adiante sobre essa produção de pinturas.

Em 1975, comemoram o centenário de C. G. Jung com uma exposição dos trabalhos dos clientes passando pelas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, na Universidade Federal do Paraná e, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Também neste ano é aposentada compulsoriamente, mas incansável, realizou até enquanto deu conta, diversas outras ações, exatamente, até 1998, na qual escreve seu último livro: “Gatos, emoção de lidar”. Ela falece em 30 de outubro de 1999, aos 94 anos, no Rio de Janeiro, por insuficiência respiratória. (MELLO, 2014).

Até dias atuais, seu trabalho é conhecido, mas devido ao lançamento do filme: “Nise: o coração da loucura”, do autor Roberto Berliner (2016), sua obra ficou mais nítida, reconhecida e valorizada, mas ainda assim percebe-se não muito a utilização de seus métodos nos dispositivos de saúde mental no Brasil e no mundo (VERONI, 2016).

Imagem do filme “Nise: o coração da loucura”,

Confira o Congresso Online Internacional sobre Saúde Mental e Direitos Humanos das Populações Vulnerabilizadas

 

O maior legado e uso de suas práticas ainda é no Rio de Janeiro/RJ (ARCHIVOS…, 2007), como o Museu de Imagens do Inconsciente (MII), a Casa das Palmeiras, o Grupo de Estudos Carl Gustav Jung (os dois: o do MII e da Casa das Palmeiras), a Sociedade Amigos do MII e projetos que foram visivelmente desdobramentos de seu legado, como o Hotel da Loucura, hoje Travessia; o ponto de Cultura Loucura Suburbana, o EAT (Espaço Aberto ao Tempo, de Lula Wanderlei), dentre outros. Seguindo sua influência também pelo mundo como em Paris/França (Association Nise da Silveira – Images de I`inconsciente), Genova/Itália (Museo Attivo dele Forme Inconsapevoli) e Porto/Portugal (MELLO, 2014; QUARTENIO, 2001).

Imagem do Museu de Imagens do Inconsciente – O Museu Vivo de Engenho de Dentro

Os inumeráveis estados do ser, de Antonin Artaud

Como citado nas linhas anteriores, a psiquiatra Nise da Silveira teve contato com muitos autores, um deles, o escritor francês Antonin Artaud, mas também internado no hospital psiquiátrico de Rodez/França (SILVEIRA, 1992), na qual ele relata em uma de suas obras, uma das cartas ao seu psiquiatra o seguinte apelo 

“O eletrochoque me desespera, apaga minha memória, entorpece meu pensamento e meu coração, faz de mim um ausente que se sabe ausente e se vê durante semanas em busca do seu ser, como um morto ao lado de um vivo que não é mais ele, que exige sua volta e no qual ele não pode mais entrar. Na última série, fiquei durante os meses de agosto e setembro na impossibilidade absoluta de trabalhar, de pensar e de me sentir ser” (SILVEIRA, p. 12, 1992)

Antonin Artaud, poeta, ator, escritor, dramaturgo, roteirista e diretor de teatro francês

Nise teve mais ainda razões diante desses tipos de depoimentos que lera e dos que aconteciam com seus clientes e, incessantemente, buscava fontes que iluminassem seus caminhos das pesquisas científicas e dos processos empíricos que via nascer no Engenho de Dentro. Como não ficara indiferente aos “estados inumeráveis do ser e cada vez mais perigosos” (SILVEIRA, p.5,1987) e de seus clientes, a psiquiatra entende que Artaud se referia a este estado da loucura

“a certos acontecimentos terríveis que podem ocorrer na profundeza da psique, avassalando o ser inteiro. Descarrilhamentos da direção lógica do pensar; desmembramentos e metamorfoses do corpo; perda dos limites da própria personalidade; estreitamentos angustiantes ou ampliações espantosas do espaço; caos;
vazio; e muitas mais condições subjetivamente vividas que a pintura dos internados de Engenho de Dentro tornavam visíveis.” (SILVEIRA, 1987, p. 5).

E assim ela adotou o termo “inumeráveis estados dos ser” em seu trabalho e estudos para designar este estado que o cliente possa estar em regiões misteriosas além do real. No início de seus trabalhos na STOR, iniciou com Almir Mavignier, o ateliê de pintura, concomitante a outras atividades expressivas e nessa prática foram surgindo recorrentes mandalas que a instigou a ponto de estudar dedicadamente até chegar nos estudos de Jung. (SILVEIRA, 2015). Ela explicitava:

Se “as imagens tomam a alma da pessoa”, entende-se a necessidade de destacá-las tanto quanto possível do roldão invasor. Pintar seria agir. Seria um método de ação adequado para defesa contra a inundação pelos conteúdos do inconsciente. (SILVEIRA, 2015, p. 15).

Mas, percebia-se que, na comunicação com casos graves de esquizofrenia, teria que ser o não-verbal. As atividades de Terapêutica Ocupacional, com os desenhos, pinturas permitia a expressividade não verbalizadas aos doentes que estavam infimamente embutidos em si mesmos. (SILVEIRA, 1979).


As saídas significativas do psiquismo humano, nas práticas expressivas, na pintura especificamente, o paciente esquizofrênico (ou melhor, segundo ela, o cliente), tentava achar saídas do seu mundo interno para o mundo externo. Essa modalidade fornecia um campo para associações livres e Nise verificou somente pelo fato de pintar, o cliente teria qualidades terapêuticas. (SILVEIRA, 1979).

A Psicologia Analítica de Jung trouxe mais clareamento para este momento crucial de constatações empíricas da psiquiatra. Segundo SILVEIRA (1979), Jung estava propondo em seus estudos que as imagens do inconsciente, especificamente na pintura, teriam uma tomada de consciência das significações mais profu das do doente psiquiátrico desintegrando cargas energéticas durante sua execução.

JUNG (2002, p. 33) cita “o mecanismo psicológico que transforma a energia é o símbolo” e as imagens dos pacientes no hospital do Engenho de Dentro/RJ emergiam parecendo símbolos de energia interna. (SILVEIRA, 1979).

Nise dava ênfase às atividades lúdicas e expressivas, pois estas são observáveis permitindo ao cliente a expressividade de suas emoções durante a execução, sejam pelas demonstrações de afetos, aos movimentos, cores, sons, formas, etc., de forma verbalizada ou não, conforme a atividade e o tipo da psicopatologia dele, mas quanto mais introspectivo for essa ação, mais alcance terá das elaborações dos pensamentos, razões, sentimentos e emoções. (SILVEIRA, 1986).

Algo que Nise sempre enfatizava era a questão das análises dos trabalhos dos esquizofrênicos. Com o tempo, ela percebeu que olhar cada um, sozinho, não faria sentido e, para fazer seria necessário agrupar, catalogar e arquivar os trabalhos/produções realizados. Isso, além da organização do acervo de cada cliente, demonstraria, através das imagens surgidas, as tentativas de reestruturação do psiquismo dele ao longo do tratamento. Observar se evoluíam, regrediam, o que mais os afetavam, sentiam, quais imagens eram mais marcantes e repetidas, etc.

Nestas sequências de produções poderiam ser encontradas um rico campo de estudos do caso do cliente que o inconsciente e a vivência emocional dele estava emergindo. (SILVEIRA, 1992).

Para isso, eram guardadas das mais simples garatujas aos mais complexos desenhos, pinturas, enfim, a produção expressiva. O fato é que não se via a qualidade da produção nos aspectos da estética, beleza, de uma obra de arte, e, sim, o processo psíquico. (GULLAR, 1994; MELO, 1994; MELLO, 2014).

A esta organização dos trabalhos em ordem de data Nise deu o nome de Arqueologia da psique, pois entendia-se que ali estava contando uma história. A história do cliente dando forma ao seu interno para o mundo externo. 

SILVEIRA apud JUNG (1987) cita que nós seres humanos vivemos entre dois mundos, duas percepções diferentes: das coisas externas (pelos sentidos) e pelas internas (por meio das imagens do inconsciente), mas nos clientes esquizofrênicos Nise dizia essas percepções se mesclarem, se interpenetrarem.

Nise da Silveira lutou durante toda vida contra as barbaridades que aconteciam nos antigos manicômios e hospitais psiquiátricos

Frases Inspiradoras de Nise da Silveira sobre Saúde Mental


Segundo seus estudos, a expressão plástica, o desenho, a pintura, a imagem produzida torna-se visível esse fenômeno psicológico que eram criados no atelier de pintura (SILVEIRA, 1987).

Essas imagens revelavam “perigosos estados do ser”, citado por Antonin Artaud, pois os acontecimentos reproduzidos pelos clientes era como se referia aos acontecimentos terríveis que poderiam acontecer nas profundezas da psiquê, sendo avassalador do ser inteiro.

Como se os pensamentos descarrilhassem de uma lógica do ser, do pensar perdendo os limites do seu próprio ser, personalidade, virando um vazio, um caos, e que, as pinturas, desenhos concretizados destes clientes surgissem, subjetivamente situações vividas revelando seu mundo interno (SILVEIRA, 1987).

Os desenhos, pinturas de clientes de Nise da Silveira fora muito instigantes e percebia-se que ocorriam nas profundezas da psiquê. Alguns notáveis clientes de Nise da Silveira fizeram história em seus estudos. Não ficando registrados somente no Museus Imagens do Inconsciente, mas sendo explanados em Congressos internacionais na época, inclusive com a presença de Jung.

No catálogo dos 40 anos de terapêutica ocupacional foi realizado a exposição “Os inumeráveis estados do ser” de produções de alguns clientes, com a organização de Nise da Silveira, curadoria de Anna Letycia Quadros e Luiz Carlos Mello, coordenação de Gladys Schincariol de Mello, dos consultores Ferreira Gullar e Humberto Franceschi e as equipes do Museus Imagens do Inconsciente/RJ e do Paço Imperial/RJ (SILVEIRA, 1987). 

Aqui, vamos citar alguns de seus clientes, suas obras e os sete temas definidos na exposição nas galerias do Paço Imperial/RJ, fazendo Nise, a partir destes trabalhos reformulou-se alguns conceitos já estabelecidos pela psiquiatria da época.

Os clientes foram: Emygdio, Adelina, Raphael, Isaac, Fernando Diniz, Carlos Petruis, Octávio, Abelardo e Lúcio que tiveram capacidades extraordinárias , como Nise mesmo cita, revelando grandes artistas em todos “os seus inumeráveis estados do ser”

O primeiro a “Miséria do hospital psiquiátrico”

Bom, finalmente, depois deste turbilhão de contextualização da vida e obra da psiquiatra Nise da Silveira, proponho uma reflexão voltada aos nossos
desenhos, desde a garatuja, passando pelos rabiscos enquanto se fala ao telefone às expressões artísticas, mesmo sem a intenção, de quando expressamos o que estamos vivendo pelo desenho, pelas imagens, pela produção do interna de nossos pensamentos e estados psíquicos.

  • Método: deixar o paciente/cliente exercer de forma espontânea as atividades artísticas deixando aflorar o que está dentro dele sem intervenção de alguém.

 

  • Arqueologia da psique: análise comparada de sequências dos trabalhos (sozinhos não faz sentido. Ver evolução, regressos, o que afetava, quais imagens mais parecia; de garatujas aos mais complexos desenhos, pinturas, etc..).  Ao lidar com a arte num contexto terapêutico desperta nas pessoas, aos poucos, a percepção, a criatividade, a cognição, a imaginação e a sensibilidade de se expressar;

 

  • Emoção de lidar: Nise disse nunca ter encontrado realmente o “embotamento afetivo” nos esquizofrênicos, mas sem esperar grandes manifestações de afetividade. Mas, este outro também se recua diante deste ser enigmático. Um outro seriamente movido pelo interesse conseguiria penetrar no mundo de um esquizofrênico (com constância, paciência e um ambiente livre de qualquer coação). Sem a ponte desse relacionamento a cura será quase impossível. Situação de um cliente, na oficina de artes aplicadas, fazendo um gato com lã: manipulação do material, satisfação em realizá-lo. Expressou-se e o transformou. “Emoção de lidar”;

  •  Afeto catalizador: relação interpessoal, espontânea com o monitor. O paciente percebe o interesse e simpatia deste monitor. Primeiro a relação, depois a produção expressada (não se vende. É necessário guardar. Ali conta a história da pessoa); Percebeu que o contato humano afetivo entre cliente e monitor: oportunidade livre para se expressar. Possível nascer e renascer do potencial criativo. (Caso Martha e Rafael).

 

  •  Monitor: durante as práticas expressivas, sem intervenções e nem falas, somente ao lado do cliente, mas num sistema vivo de apoio. Ambiente acolhedor e de afeto. Uma linguagem diferente e expressiva sutil, não- verbal (muitas vezes) e sabiamente reveladora do imaginário social e humano criando um vínculo afetivo e expressivo da pessoa com a arte e com quem o cerca (médico, enfermeiro, psicólogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, esposa, marido, filhos, familiares, amigos);

 

  •  Animais como co-terapeutas: pioneira no Brasil em usar animais como tratamento;

  • Os inumeráveis estados do ser: Nise teve contato com a obra do escritor Antonin Artaud, também paciente psiquiátrico (Roldez, França). Diante das escritas dele, achou este comentário: “os estados inumerados do ser e cada vez mais perigosos”. A psiquiatra entende seu clamor e sofrimento e adota em seu trabalho: “os inumeráveis estados do ser” designando o estado que a pessoa possa estar vivendo acometida pelo sofrimento psíquico, em regiões misteriosas além do real.

 

REFERÊNCIAS

-ARCHIVOS contemporâneos do Engenho de Dentro: história e cuidado em saúde mental. Rio de Janeiro: Instituto Nise da Silveira, Ano 1, n.1, 2007.

-GULLAR, Ferreira. Museu de Imagens do Inconsciente. Emygdio. In.: PEDROSA, Mário (org.). Rio de Janeiro: FUNARTE/Instituto Nacional de Artes Plásticas, 1994.

-HORTA, Bernardo Carneiro. Nise: arqueóloga dos mares. 2.ed., reimpr. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2009.

-JUNG, Carl Gustav. A energia psíquica. Tradução Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha. Petrópolis: Vozes, OSB. v. VIII,1. 2002.

-MELO, Walter. Nise da Silveira e o campo da Saúde Mental (1944-1952): contribuições, embates e transformações. Departamento de Psicologia Social e
Institucional/ UERJ. Rio de Janeiro: Mnemosine, Vol.5, n.2, p. 30-52, 2009.

-MELLO, Luiz Carlos. Nise da Silveira: caminhos de uma psiquiatra rebelde. Rio de Janeiro: Automatica ed., 2014.

-QUATERNIO. Editorial. Revista do grupo de estudos C. G. Jung. Rio de Janeiro: Casa das Palmeiras, n. 8, 2001, p. 4. 

-______. Casa das Palmeiras, Emoção de lidar: uma experiência em psiquiatria. Rio de Janeiro: Alhambra, 1986.

-______. Imagens do Inconsciente. Petrópolis: Vozes, 2015.

-______. O mundo das imagens. São Paulo: Ática, 1992.

-______. Os inumeráveis estados do ser: 40 anos de terapêutica ocupacional. Rio de janeiro: Sociedade amigos do museu de imagens do inconsciente, 1987.

-______. Terapêutica ocupacional: teoria e prática. Rio de Janeiro: Casa das Palmeiras, [1979?].

-VERONI, Wander. Nise da Silveira, a mulher que mudou a história da psiquiatria no Brasil. Disponível em <http://blog.saude.mg.gov.br/2016/05/17/resenha-niseda-silveira-a-mulher-que-mudou-a-historia-da-psiquiatria-no-brasil/>. Acesso em 09/03/21.

 

Contatos:
Elaine Loures – Psicóloga
CRP 04/50.252
Whatsapp: +55 (31) 99130-2791
Instagram: @afetocatalizador ou elaineloures@yahoo.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *