Arteterapia: A transformação em Saúde Mental por meio da Arte

Atualmente, dentro do universo que compõe a saúde mental, é possível observar que, cada vez mais, novas abordagens terapêuticas têm se consolidado como formas de tratamento para diferentes dificuldades psicológicas apresentadas pelas pessoas.

A arteterapia tornou-se uma delas. Unindo arte à saúde mental, tem transformado vidas por meio de suas técnicas bem estruturadas, sensíveis e capazes de proporcionar diversos efeitos terapêuticos positivos nas pessoas que a fazem.

A arteterapia, enquanto ação e aprendizado, permite ao indivíduo o conhecer de si mesmo, aprimorando partes diferentes do seu ser, do seu corpo e da sua mente, através da música, da pintura, da dança e de tantos outros elementos que a compõem.

Como abordagem terapêutica, permitiu a ele o experimentar de vivências criativas, de momentos de fala, de expressão de seus sentimentos, tendo como desfecho a ampliação de sua autonomia.

A união entre arte e saúde mental tornou-se uma conquista de inestimável valor para qualquer tratamento que se dispunha dela como técnica principal ou mesmo como complemento terapêutico.

A história da arte como ferramenta de recuperação psicossocial no Brasil

Até alguns anos atrás, mais para a metade do século XX, quando manicômios, internatos e as formas agressivas e violentas de se tratar indivíduos encarados como loucos ainda eram permitidas no Brasil, figuras importantes manifestavam-se contra determinadas práticas.

Camisas de força, tratamentos de choque, dentre outras; todas essas formas de tratamento consideradas dentro do âmbito manicomial seriam extintas e, dessa maneira, espaços para novas abordagens de tratamento e para o desenvolvimento de um novo modo de se pensar a saúde mental surgiriam.

Uma das figuras mais importantes dessa história, entre a arte e a saúde mental, surgiu dessa luta; essa figura, mulher que deu voz as experiências dos apontados como loucos pelos especialistas da época, foi Nise da Silveira.

Revolucionária no que diz respeito à maneira de tratar as pessoas, sua marca ficou registrada pela incorporação da arte nos tratamentos realizados por ela e seu parceiro, Fabio Sodré, no setor de terapia ocupacional do antigo Centro Psiquiátrico Nacional, localizado no Rio de Janeiro.

Utilizando da linguagem artística como forma de alcançar os frequentadores dos centros onde trabalhou, Nise teria percebido o impacto que as artes plásticas poderiam ter sobre a vida dessas pessoas, entendendo que a pintura de quadros, a criação de obras e outras formas de expressão, serviam como um canal de comunicação entre ela e o indivíduo, assim como dele para com sua própria condição.

Uma vez que esse tipo de tratamento teria começado com pacientes dos antigos manicômios, classificados como esquizofrênicos graves naquele período, Nise percebeu que estas pessoas, que pouco ou nunca falavam, tinham, por meio da arte, das obras, uma voz que fazia menção direta aos conflitos internos que experienciavam por conta de suas vivências.

Apontando falhas na psiquiatria tradicional, Nise contestou práticas e demonstrou soluções, dando novos contornos e sentidos aos tratamentos e às relações entre os psiquiatras e as pessoas, naquela altura, consideradas como pacientes.

Os primórdios da autonomia dos indivíduos no que concerne as questões de sua própria saúde mental deram-se nessa época, quando Nise e outra figura importante, Osório Cesar, revolucionaram as abordagens tradicionais da psicologia e da psiquiatria clínica no Brasil.

Como mulher pioneira da união entre a arte e a saúde mental, Nise teve parte de sua trajetória consolidada na forma de um museu, que até hoje se encontra no Rio de Janeiro, mesmo depois de sua inauguração em 1952.

O Museu do Inconsciente, como é chamado até hoje, congrega mais de 300 mil obras de indivíduos apontados com algum nível de dificuldade psicológica, sendo conceituado como uma referencia internacional.

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Para a doutora alagoana, que foi convidada a estudar com C.G. Jung, permanecendo na suíça por um período de um ano ao lado dele, a arte parecia significar a expressão de algo não dito por aquelas pessoas.

Nise é o símbolo de uma luta por vidas, por dignidade e direitos por tanto tempo violados. Ela enxergou, onde poucos pareciam enxergar, a riqueza contida nos seres humanos e a beleza de suas experiências.

As experiências com a arte e seus benefícios para a saúde mental

Desde as mudanças proporcionadas por Nise da Silveira no que diz respeito ao olhar da psicologia e da psiquiatria brasileiras ao indivíduo, a saúde mental no Brasil tem caminhado por diferentes diretrizes.

O que se observa hoje, diferentemente do que era possível de se observar no passado, é o advento de novas abordagens terapêuticas por muitos dos lugares responsáveis por ajudar a busca de pessoas por melhorias em suas condições de saúde mental.

Um reflexo disso tem se dado por meio da arteterapia, uma prática pouco verbal, mas que procura, através das artes plásticas e do teatro, lidar com as complexidades do quadro de quem a faz.

Aceitando e acolhendo os diversos aspectos da experiência pessoal do indivíduo, como os aspectos afetivos, culturais, cognitivos e sociais, busca-se sempre o melhor possível dentro de suas condições.

Realizada por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará, uma pesquisa que selecionou como um de seus focos principais o estudo dessas práticas arteterapeuticas realizadas nos CAPS da região municipal de Fortaleza, constatou os benefícios reais dessas atividades para a saúde mental do grupo de participantes escolhido como objeto.

Sob o nome de “Arte e Saúde”, o projeto cearense tem como objetivo expandir o acesso a esse tipo de ação positiva por entre todos os centros especializados no tratamento e auxilio de indivíduos enfrentando esses tipos de dificuldades.

Em conclusão aos estudos, se constatou que:

“a arteterapia tem possibilitado aos usuários a vivência de suas dificuldades, conflitos, medos e angústias de um modo menos sofrido. Configura-se como um eficaz meio para canalizar, de maneira positiva, as variáveis do adoecimento mental em si, assim como os conflitos pessoais e com familiares.

Nota-se que há uma minimização dos fatores negativos de ordem afetiva e emocional que naturalmente surgem com a doença, tais como: angústia, estresse, medo, agressividade, isolamento social, apatia, entre outros” (Coqueiro, 2010).

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Outra ferramenta surgida da arte, que se transformou em meio de se tratar da saúde mental das pessoas, foi a musicoterapia, uma maneira diferente de se usar da musica, dos instrumentos e dos sons emitidos por eles, com o objetivo de facilitar a expressão e a cognição mentais do indivíduo, buscando ativar todo seu potencial para criar.

O contato das pessoas com os instrumentos seria, assim como na arteterapia, uma nova maneira deste de se comunicar com o mundo, visto que, conforme a criação de novas conexões através da musica, diferentes formas deste indivíduo se desenvolver poderiam surgir.

Um exemplo de vida e contato com a musicoterapia se faz presente na vida da artista irlandesa, Michele Dalton, que como ouvidora de vozes desde seus 4 anos de idade, encontrou na musica e na arte uma maneira de conseguir sua autonomia em relação as dificuldades que enfrentava.

Michele, além de ter se tornado uma artista, foi a curadora do festival “Música para a Mente”, primeiro festival de música vinculado a saúde mental para jovens da Irlanda, evento que ganhou bastante atenção em seu país natal, assim como fora dele, repercutindo internacionalmente.

A música envolve e atinge o ser humano em sua totalidade. A musicoterapia é um forte instrumento facilitador de mudanças, por estar em contato íntimo e profundo com as várias facetas do ser humano (Santos, 2008).

Dentre os exemplos que poderiam ser destacados, outro, de tamanho impacto e relevância, é o desenvolvido na região de Belo Horizonte, em Minas Gerais, pela organização Cáritas, acolhendo crianças e adolescentes que apresentam dificuldades na escola e que, diversas vezes, acabavam sendo encaminhadas para serviços de saúde mental de maneira precipitada.

Construído justamente com esse objetivo, de ajudar os jovens a superarem suas dificuldades por meio de formas e práticas alternativas, o programa nomeado como “Arte da Saúde” sustenta a ideia de encontrar estas saídas, aliando a arte com a vida do adolescente, permitindo que ele desenvolva e demonstre todo seu potencial em espaços planejados para isso.

Seja pela culinária, pelas oficinas de arteterapia e musicoterapia, pelo esporte ou por entre tantas outras coisas que o espaço oferece, o objetivo ultimo do programa é sempre o mesmo: conceder a autonomia que o jovem precisa para crescer e viver feliz.

Os poderes da arte: uma reflexão final

A arte tem poderes incríveis na vida de uma pessoa. Traz saúde, bem estar físico e psicológico, permite ao ser humano se conhecer, desenvolver novas capacidades.

Com a saúde mental não é diferente, tanto que a quantidade de programas de arteterapia hoje, com essa função, é enorme; as pesquisas também comprovam; e é por esses e outros motivos que ela se faz tão presente nesses tratamentos.

Desde o início dos tempos observa-se a arte dialogando com praticamente todas as outras áreas do conhecimento, algo que atingiu até os maiores filósofos da história do homem, como Platão e Aristóteles, quando esses dissertaram sobre o poder e o impacto da música.

Seja por meio de esculturas, de obras em quadros, sons e etc, a arte está em tudo. Seus benefícios para a saúde mental são notáveis, assim como para aquele que se deixa entrar em contato com ela, seja dançando, desenhando ou escutando.

A arte é um universo infinito, que tem o poder de tocar a gente, e é mais do que importante valorizar a influencia que ela tem em absolutamente tudo ao nosso redor.

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