O Diálogo Aberto é uma abordagem inovadora de atendimento psiquiátrico baseada em rede, desenvolvida na década de 1980 por uma equipe multidisciplinar no Hospital Keropudas em Tornio, Finlândia.
A abordagem do Diálogo Aberto foi, desenvolvida por Jaakko Sekkula, Markku Sutela e sua equipe multidisciplinar no Hospital Keropudas em Tornio, Lapônia Ocidental, Finlândia durante o últimos 30 anos.
Na década de 1980, os serviços psiquiátricos na Lapônia Ocidental tiveram um grande aumento de diagnósticos de “esquizofrenia”. Neste contexto começa a ser desenvolvida a abordagem.
Após 30 anos, eles têm os resultados mais bem documentados do mundo ocidental. Por exemplo, cerca de 75% das pessoas atendidas voltaram a trabalhar ou estudar em 2 anos e apenas cerca de 20% ainda estão tomando medicamentos antipsicóticos em 2 anos de acompanhamento.
É uma nova abordagem para a saúde mental. Em contraste com os tratamentos padrão para o atendimento a pessoa em crise, o Diálogo Aberto enfatiza ouvir e compreender e envolve a rede social desde o início – em vez de depender apenas de medicamentos e hospitalização.
Compreende tanto uma forma de organizar um sistema de tratamento quanto uma forma de conversação terapêutica, ou Prática Dialógica, dentro desse sistema.
O básico do Diálogo Aberto é sua versão radicalmente alterada da reunião de tratamento, que normalmente ocorre 24 horas após a ligação inicial para o serviço de crise.
Esta reunião de tratamento reúne todas as pessoas ligadas à crise, incluindo a pessoa do centro, sua família e rede social, todos os auxiliares profissionais e todas as pessoas intimamente envolvidas.
Ao longo deste processo, não há reuniões de equipe separadas para falar sobre o “caso”. Em vez disso, todas as discussões e decisões ocorrem na reunião de tratamento com todos os presentes.
Os Modelos Teóricas da Abordagem
Trabalhando com famílias e redes sociais, tanto quanto possível em suas próprias casas, as equipes do Diálogo Aberto trabalham para ajudar todos os envolvidos em uma situação de crise a se unirem e a se engajarem no diálogo.
O Diálogo Aberto se baseou em uma série de modelos teóricos, incluindo terapia familiar sistêmica, teoria dialógica e construcionismo social.
Há uma forte convergência entre o Diálogo Aberto e os princípios e práticas orientados para a Recovery.
Ambos abraçam a Recovery como um processo genuíno de renascimento e resiliência, que é baseado na esperança, no fortalecimento e em uma rede de apoio.
O Diálogo Aberto cria parcerias democráticas entre profissionais e as pessoas a quem servem para restaurar vidas produtivas e significativas.
Tanto a perspectiva de Recovery quanto o Diálogo Aberto são reforçados pelo conhecimento de que pessoas com problemas de saúde mental e dependência podem e perseveram e desempenham papéis significativos na sociedade.
Descrição da Abordagem de Diálogo Aberto
O Diálogo Aberto não enfatiza a intervenção farmacêutica e, em vez disso, estabelece um diálogo com o usuário, fornece ajuda imediata e organiza “uma reunião de tratamento” dentro de 24 horas após o contato inicial.
O Diálogo Aberto vê à crise como “acontecendo entre as pessoas, não dentro de uma pessoa”, colocando a atenção em ajudar a melhorar as relações sociais que cercam a pessoa em crise como a chave para a Recovery.
O Diálogo Aberto aborda os problemas na rede de relacionamentos em torno de uma pessoa que está “em crise”, em vez de assumir que o problema está dentro da cabeça da pessoa.
Ajudar a rede social – incluindo a mudança de atitudes dos provedores, ao invés de focar apenas em conseguir mudanças na pessoa em crise.
O problema que o processo busca resolver é visto como estando entre as pessoas e no contexto social mais amplo, não como uma patologia no indivíduo.
O Diálogo Aberto alcançou ótimos resultados: evitando hospitalização, reduzindo o uso de medicamentos e ajudando as pessoas a superar crises.
As pessoas atendidas não são obrigadas a incluir membros da família se não disserem a participação deste membro, e as questões de segurança e abuso têm prioridade.
No entanto, a separação de uma família abusiva nem sempre é considerada a melhor estratégia, porque ao se retirar você pode perder a oportunidade de enfrentar e desafiar o abuso.
Em um “primeiro intervalo”, há uma oportunidade de trazer a dinâmica familiar à tona e conseguir mudanças de poder nos relacionamentos.
Alguém que se envolve diretamente com um membro da família abusivo e supera com sucesso a dependência emocional ou o medo, pode então ter recursos mais fortes para transformar problemas mais profundos.
Quando você se separa de sua família, pode carregar sentimentos e padrões não resolvidos que moldam o resto de seus relacionamentos e de sua vida, e descobrir que não se separou de verdade.
Princípios do Diálogo Aberto
- Suporte imediato: que começa com uma reunião de tratamento dentro de 24 horas;
- Uma perspectiva social que inclui a reunião de médicos, familiares, amigos, colegas de trabalho e outras pessoas relevantes para uma discussão conjunta;
- Abraçando a incerteza, encorajando conversas abertas e evitando conclusões prematuras e planos de cuidado;
- Criar um diálogo, ou uma sensação de “ser” em vez de “ser” com os participantes de encontro, abandonando o olhar clínico e ouvindo o que as pessoas dizem – ao invés do que pensamos que eles querem dizer;
A Reunião de Tratamento
O objetivo da reunião é definido como o diálogo, em que o paciente pode encontrar voz, reduzindo assim a sensação de isolamento da pessoa.
A abordagem enfatiza o processo de encontrar uma linguagem para a experiência psicótica que antes era difícil de expressar e de criar uma compreensão compartilhada da crise em uma rede.
O uso de palavras comuns e a criação de significados conjuntos tende a gerar um conjunto colaborativo de relacionamentos e a abrir um caminho para o conhecimento, habilidades e capacidades das próprias pessoas.
Resultados
Com ênfase em ser responsivo às necessidades de toda a pessoa, ao invés de tentar erradicar os sintomas, estudos têm mostrado que a abordagem do Diálogo Aberto leva à redução da hospitalização, do uso de medicamentos e da reincidência quando comparada aos tratamentos convencionais.
Em um estudo de cinco anos, por exemplo, 83% dos pacientes haviam retornado aos seus empregos ou estudos ou estavam procurando um emprego (Seikkula et al. 2006). No mesmo estudo, 77% não tinham nenhum sintoma residual.
Os usuário do Diálogo Aberto foram hospitalizados com menos frequência e três por cento desses pacientes necessitaram de medicamentos neurolépticos, em contraste com 100 por cento dos pacientes no grupo de comparação.
No acompanhamento de dois anos, 82% não apresentavam, ou apresentavam apenas sintomas leves não visíveis, em comparação com 50% no grupo de comparação.
As pessoas atendidas na região da Lapônia Ocidental tiveram melhor situação profissional, com 23% vivendo com auxílio-invalidez em comparação com 57% no grupo de comparação.
As recaídas ocorreram em 24% dos casos de Diálogo Aberto em comparação com 71 por cento no grupo de comparação (Seikkula et al., 2003).
Aprendizado da Abordagem:
- Atenda à pessoa em crise imediatamente e muitas vezes diariamente até que as crises sejam resolvidas;
- Evite hospitalização e seu estigma;
- Atender preferencialmente nas residências de quem procura seus serviços;
- Evite o uso de medicamentos antipsicóticos sempre que possível;
- Trabalhe em grupo, porque a psicose é pode ser um problema de relacionamento;
- Incluir no processo as famílias e redes sociais de quem busca ajuda;
- Os médicos trabalham em equipes, não como médicos isolados e únicos;
- Aborde os valores da voz de todos no processo, mais especialmente da pessoa diretamente em crise;
Evitar:
- Procedimentos de diagnóstico;
- A linguagem da patologia;
- Discussões sobre o usário em sua ausência
- Perspectiva individual;
- Pensando que os problemas precisam ser resolvidos
Seus princípios podem ser aplicados das mais diversas formas, nas mais diversas áreas, pensando em saúde mental. Documentários, textos, congressos…Vale a pena conhecer um pouco mais!
Referências Bibliográficas:
Aaltonen, J., Seikkula, J., & Lehtinen, K. (2011). Comprehensive open-dialogue approach I: Developing a comprehensive culture of need-adapted approach in a psychiatric public health catchment area the Western Lapland Project. Psychosis, 3, 179 – 191.
Seikkula, J., Aaltonen, J., Alakare, B., & Haarakangas, K. (2006). Five-year experience of first-episode nonaffective psychosis in open-dialogue model. Psychotherapy Research, 16(2), 214-228.
Seikkula, J., Alakare, B., & Aaltonen, J. (2011). The comprehensive open-dialogue approach(II). Long-term stability of acute psychosis outcomes in advanced community care: The Western Lapland Project. Psychosis, 3, 1–13.
Seikkula, J. & Olson, M. (2003). The open dialogue approach: Its poetics and micropolitics. Family Process, 42, 403-418.
OPEN DIALOGUE: an alternative Finnish approach to healing psychosis (COMPLETE FILM). https://www.youtube.com/watch?v=HDVhZHJagfQ&feature=emb_imp_woyt
Link permanente
Considero importante e inovadora esta abordagem, mas fico pensando sobre a forma de inseri-la em um modelo brasileiro, no qual o serviço público é sofrível, a saúde suplementar muito limitada na área de saúde mental e atendimentos filantrópicos são quase inexistem. Como bancar um trabalho que envolve uma equipe preparada e as custas do tratamento?
Link permanente
Olá Márcia, boa reflexão, este serviço na Finlandia ele faz parte do serviço público local. Acredito mais do que falta de orçamento a principal dificuldade é o interesse de implementação. Não podemos esquecer do aumento de verba para os hospitais psiquiátricos. Esta abordagem já vem sendo implementadas em algumas cidades do Brasil: Cajuru/MG e Jaragua do Sul/SC.